quarta-feira, dezembro 28, 2005

Só de Sacanagem!!!





Meu coração está aos pulos!




Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro,do nosso dinheiro, que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.



Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, Esse apontador não é seu, minha filhinha”.Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.




Pois bem, se mexeram comigo,com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:mais honesta ainda vou ficar.



Só de sacanagem!



Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.



Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.



Eu repito, ouviram? I-M-O-R-T-A-L!



Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser,vai dar para mudar o final!




Musica do Post: Problema Social - Na voz de Seu Jorge

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Belezas




Qual versão da moça, esposa de um rico cidadão fiorentino de nome Francesco Di Bartolomeu Del Giocondo, que em 1503 encomendou a Leonardo Da Vinci um quadro, nessa foto ficou bonita? Não precisa mentir para si próprio. A da esquerda, a original, ou a da direita, a versão americanizada? conseguiu responder? Agora tente explicar para si mesmo o porquê da decisão? Vamos ver...você achou a moça do quadro esquerda muito simpática, um sorrisinho enigmática, mas feia? Não consegue entender como para um gênio como o Leo da Vinci podia tê-la como padrão de beleza, até que finalmente pessoas de bom senso deram um trato, uma repaginada na coitada? Não se preocupe, ou melhor, se preocupe, a grande maioria respondeu como você. Mas deixa-me exercitar minha chatice e perguntar mais uma coisa? O que é ser bonito? Como se mede a beleza de alguém?

Não sou bonito, definitivamente. Isso não é discurso de um feio que quer atenuar sua falta de formosura com a sinceridade, longe disso. Sou alguém que tenho certeza que toda a fotogenia e beleza da família foram dadas a primogênita, ou seja, minha irmã.Loira, magrinha dos olhos verdes, nem de longe parece este que vos fala, que tem cabelo crespo, olhos pequenos, nariz achatado e corpo em forma de “8” (to quase virando um 0). Posso ter várias virtudes, mas essa...


Mas hoje fiquei me perguntando que elementos tornam alguém mais ou menos bonito. Será que um conjunto de biótipos que ao longo do tempo se tornaram tão naturais no nosso subconsciente, tais como peitoral definido, pernas grossas, barriga de ‘tanquinho’, seios volumosos, braços do tamanho da coxa (exagero? Sei não...)? Enfim, pessoas que se constroem, que são produtos e não produtores de beleza. E não adianta dizer que a pessoa pode ser bela nos últimos dias tendo apenas um rosto lindo: parafraseando Vinicius de Moraes, “desculpem-me os gordos, mas um corpo sarado é fundamental”. E essa busca desenfreada por esses estereótipos ditos “formosos” me incomoda, não pela aparência em si, mas porque a maioria não sabe o que é realmente ser bonito. Na verdade, dentro de uma academia, em geral, o que menos se exercita é o senso crítico.


Se pelo as pessoas entrassem nesse culto ao corpo por consciência própria, por saúde, por gostarem daquele formato do corpo que se produz ou qualquer outra desculpa, até tudo bem. Tenho um caso desse aqui em casa: minha mãe é uma malhadora nata, ratas de academia, mas faz por que gosta, porque se sente bem e não porque quer se exibir para os outros. É esse o problema maior: as pessoas querem aparecer, querem se exibir, e, se por acaso, a moda fosse ser gordo, com certeza a grande maioria deixaria a barriga crescer, se olhariam no espelho e diriam “Fulano, minha barriga tá maior que a sua”. Vão de acordo com a direção do vento, sem pensar, e se o vento mudar, mudam também. Esse culto do corpo cada dia mais tem se tornado uma forma de compensação.


Em hipótese nenhuma estou afirmando que malhar ou estar na academia é sintoma de personalidade fraca, em absoluto. Mas, e eu adoro essa expressão, tudo tem que ter equilíbrio. Quem tem o hábito, bom ou mau, de vasculhar os profiles dos amigos e dos amigos dos amigos tem que se deparar com comentários sobre os livros prediletos: “Não curto muito ler não”, “Não gosto de ler”, “Playboy”...Tá bom homens, tem a versão feminina também: “Capricho”, “Atrevida”, “Eu me lembro que há muito tempo atrás eu li o pequeno príncipe e adorei”, “Comecei a ler Harry Potter, mas ele é muito grande e preferi assistir ao filme”. Tudo isso com a entonação de orgulho, como se ler um mísero livro por mês fosse coisa de Nerd, de pessoas cabeçudas, cdf’s que nunca foram a uma academia. Aliás, já se tornou senso comum ver a pessoa com livros na mão e o achar “o intelectual”, tradução mais comum: o chato que se acha o inteligente.



Mas ainda não consigo ver uma explicação global para a beleza. Um conceito único, que seja compatível com todas as idéias de beleza. A beleza está nos olhos de quem a vê é a frase chave desse parágrafo. Um ser belo é um ser relativo, pode ser belo para você, pode ser feio para mim, pode ser um semi-deus grego para alguns, ou um bruxo para outros. A formosura de uma pessoa não se restringe a apenas alguns traços físicos, mas a inteligência, a simpatia, o charme, a áurea da pessoa. Isso mesmo, ou você nunca teve a sensação de ver uma luz em redor de uma pessoa que você acha encantadora? Esse tipo de pensamento parece antiquado, um tanto quanto ultrapassado, e você tem todo direito de achar que isso é um discurso de um gordinho se justificando, mas o que na verdade quero dizer é que existe algo que nos controla, nos manipula, nos condiciona: a imprensa. Vender uma imagem é interessante para eles, que venderiam até a mãe em troca de audiência. Não concorda comigo? Tudo bem, mas pensa bem: você já viu uma gordinha como protagonista de alguma novela ou filme, salvo aqueles que falam do tema? Você já viu algum feio, feio mesmo, aquele que parece que fez cirurgia para ficar mais feio se tornar galã de novela das oito? Fecho com uma singela indagação: você tem certeza que já assistiu Malhação?. Mas dizer que eles são os únicos responsáveis por isso é querer inventar um bode expiatório. A culpa é também nossa, que, como elfos, seguimos e fazemos passivamente tudo o que eles pedem para fazer.



Repito: a beleza é muito mais abrangente. Pessoas bem humoradas, daquelas que têm prazer em rir sem medo de ser feliz. Pessoas com conteúdo, sem precisar serem doutores em Física em Havard, mas que saibam falar sobre tudo sem ficar perdido. Conheço uma pessoa que vai da fofoca mais recente no show business até a concepção do tempo para Einstein, passando pelas teorias teológicas da criação do mundo, com a mesma naturalidade de quem está falando de um mesmo assunto coerente. (Só não conto quem é porque o meu espelho denuncia). Pessoas inteligentes para mim não são seres que não erram uma concordância verbo-nominal sequer, que esbanjam conhecimento, que leram Nieztchie ou Kant, e etc. Pessoas inteligentes são aquelas que, independente de falar certo ou errado, ter cultura literária ou não, sabem se colocar, tem coerência no pensamento, sabem responder a pergunta:quem é você? Pessoas charmosas, isso é uma coisa que se eu pudesse optar em ser, eu seria.São pessoas carismáticas, possuem um magnetismo que as tornam imãs, independente de características físicas.Não obstante as controvérsias, o Jô Soares é um exemplo,para mim, de homem charmoso.


Enfim, chego a conclusão de que não existe uma beleza, mas uma multiplicidade de belezas. Uma combinação que tem a diversidade infinita. Descobri a pólvora, diz você talvez. Pode ser, mas vai a uma academia, principalmente na parte do Voador, do Supino e, sobretudo, do espelho onde um monte de homens se exibem e se comparam e fale isso. Mas vá acompanhado por um segurança de tamanho, no mínimo, 3 X 4 metros.


São tantos os itens que tornam uma pessoa bela que me perderia aqui divagando sobre cada uma dela. Mas desses breves elementos fica a pergunta: porque a beleza física em primeiro plano? Explicação óbvia é a de que houve uma inversão de valores. A explicação verossímil é de que é muito fácil ficar “bombado” do que uma pessoa mais...que palavra dizer...culta! Por que não entender que nem todas as pessoas querem esse padrão de beleza fugas? Por que essa exaltação exacerbada do corpo, que, ao taxarem os gordos ou magrelos de ‘pessoas com falta de força de vontade’, marginalizando os que fogem ao padrão de beleza, esboçam o que eu diria de “fundamentalismo corporal”?


A cada dia mais percebo que caí de pára-quedas no século XXI, não sou e nem quero ser vassalo desse tempo. Acho a Monalisa bonita sim, adoro mulheres de óculos (Ficam tão mais encantadoras), amo Vinicius de Moraes, mas acho sua frase de “Desculpem-me as feias, mas belezas é fundamental” uma grande bobagem. Gosto de mulheres que se dão valor, que saibam ser sensuais sem apelar para um decote, ou para microssaia e mini-top que as fazem serem confundidas no ponto de ônibus com...vocês-sabem-quem...(Presenciei essa cena hoje, e te garanto que em menos de 15 minutos foram mais de 10 carros parando e perguntando...Lamentável, mas fazer o quê?).


Sou daqueles que se você perguntar a um grupo de pessoas, que acabaram de me conhecer , o que acharam de mim, nunca terão como resposta: ele é bonito. Pelo contrário, escutarão muitos “Legal”, “Simpático”, “Palhaço”, “Falador”. É viva a lembrança de chegar em algum lugar com a minha irmã e o povo comentar para os meus pais: “Nossa, sua filhota é linda! Parabéns... Ah! O seu filho também é bonitinho”.


Se eu me acho feio? Sim, felizmente.


Se me incomodo com isso? De forma alguma...



Mas to me achando gordo, acho que vou começar uma dieta, que tal?


Musica do Post: Chocolate – Marisa Monte.



PS. Post feito à base de uma caixa de bis...

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Insegurança, seu nome é Nelton.



A melhor coisa sobre o amor é sua constante incerteza. Um dia você está seguro, sabe exatamente o que está se passando com você, então numa semana inteira de angústia, sua certeza desaparece e você não tem mais certeza de nada.
Li essa frase um dia desses, e, contrariadamente, tenho que concordar com o autor de tal frase. Só não concordo que seja a "melhor coisa sobre o amor", não para mim, alguém que tem a insegurança como uma das características principais, só perdendo para a alegria "em excesso", e para o amor o primeiro lugar das características centrais da personalidade Nelton Araújo. Pelo contrário, é o que me mais incomoda: ser inseguro dá a impressão, por vezes falsa, por vezes verdadeira, que falta confiança no outro. Não é meu caso,mas a descrição de como é a incerteza numa relação é perfeita: você acorda, e bate uma insegurança, como se aquele dia fosse o último dia, como se daqui a algumas horas tudo se esvaísse por suas mãos, e aquilo que você tinha como mais sólido no dia anterior se desmanchasse no ar. Motivos para isso? Nenhum, e você têm consciência disso. Isso te faz sentir calafrios, te faz perder o belo dia de sol infernal com uma preocupação na cabeça, afinal, ninguém gosta e quer perder algo que ama mais do que você mesmo.


Talvez seja essa a explicação: amar algo mais do que você. Você se esconde por trás de uma paixão, deseja naquele objetivo de vida, seja profissional ou sentimental, aquilo que, na verdade, você deveria desejar a si próprio. E quando aquilo se perde, não estamos preparados para a frustração.E ninguém consegue estar preparado para a vida se não estiver preparado para enfrentar uma frustração. Particularmente, eu detesto estar no meio termo, e embora entre o 8 e o 80 existam uma diversidade de graus de intensidade, posso dizer que, quando me envolvo com algum projeto ou com alguém, entro de cabeça. Mergulho e corto os oceanos, e por mais que saiba que isso possa me machucar, não encontro melhor maneira de me envolver.


É o perfeccionismo de minhas veias que pulsa nessas horas: quero ser o melhor profissional, o melhor namorado, o melhor filho, o melhor músico... Utopia, eu sei, mas prefiro estar sempre em aperfeiçoamento a me conformar (ô palavrinha que deveria ser limada do dicionário e de nossos corações). Sou daqueles que morreriam feliz se fossem pobres mas realizados, na profissão que realiza, na família que constitui, nos amigos que têm, do que pessoas cheias de grana, ou pelo menos, estabilizadas mas que não suportam o lugar onde trabalham, vivem um casamento de fachada (Estranho para o século XXI,né? Conheço uns montes), que têm o carro do ano, mas não têm amigos para conversar. Talvez seja por isso que tenha tanta incerteza na minha vida profissional. Os estudos de 4 intensos anos na faculdade para mim são recompensadores numa monografia, avaliada com 10 "com louvor", de final de curso. E são considerados ineficientes no dia seguinte que fui levado ao paraíso, quando vi que não passei no mestrado. Posso até nesse momento, mais tranqüilizado e mais racional, saber que estou novo, que não foi culpa minha, mas que na hora bate a insegurança e você se pergunta se é isso mesmo, ah, não há dúvida que bate. Vejo milhares de rostos se formando e indo para o mercado e fico me perguntando se sou capaz a me sobressair dessa multidão.

Da mesma forma acontece com quem está do meu lado, com aquela que eu digo que eu amo. Nunca, mas nunca mesmo acredito no meu potencial. Sempre acho algum defeito em mim, to sempre inventando ou achando algum problema para dizer que não estou agradando. Sempre acho que os ex's foram melhores e que os que dão em cima são superiores para mim. Pura insegurança, eu sei, mas vai explicar isso para a parte do meu corpo que me faz tremer quando não escuto aquele "eu te amo" que esperava, quando não recebo uma mensagem que estava desejando. Nesse instante, a cabeça gira, os sentimentos se confundem, imagens que você nunca viu, mas que tem certeza que já sentiu passam como num filme sobre o seu fracasso. ô cabecinha fértil, por que não acreditar que ela pode estar te amando também? Porque dá ouvidos a vozes de que não sou capaz de estar com quem estou, de que não sou o bom o bastante?
Mas uma hora isso passa, ah, passa!


E quando essa crise de incerteza passa, surge a nuvem da segurança. Passageira, evidentemente, vem e fica algumas horas, quiçá, alguns dias. E tal como no quadro que ilustra o post, a sensação que dá é que, mais cedo do que posso prever, a certeza que tenho sobre a vida, a segurança sobre tudo, se derreterão tal como os relógios...



... e tudo começa de novo. Estranho, não? Bem vindos ao mundo dos inseguros.





Musica do Post: Boa Noite - Djavan.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Breve retorno

Não, eu não fui abduzido.Apesar de a cada dia achar que estou deslocado espaço-temporalmente da sociedade, eu estou na Terra.


O Blog novamente está adormecido, porém, vivo.


Talvez até o final do ano eu escreva alguma coisa, se eu sobreviver a isso tudo.


Só peço a todos que torçam por mim. Cristãos, orem. Ateus, qualquer coisa já tá bom, né?


Talvez se eu não tivesse amando eu já teria pirado. Sabe como é, "mas o teu amor me cura, de uma loucura qualquer..."


Musica do post: Tudo bem - Lulu Santos

terça-feira, setembro 20, 2005

Momentos Poéticos III



Tira-me o pão, se quiseres,

tira-me o ar, mas não

me tires o teu riso.





Não me tires a rosa,

a lança que desfolhas,

a água que de súbito

brota da tua alegria,

a repentina onda

de prata que em ti nasce.





A minha luta é dura e regresso

com os olhos cansados

às vezes por ver

que a terra não muda,

mas ao entrar teu riso

sobe ao céu a procurar-me

e abre-me todas

as portas da vida.





Meu amor, nos momentos

mais escuros solta

o teu riso e se de súbito

vires que o meu sangue mancha

as pedras da rua,

ri, porque o teu riso

será para as minhas mãos

como uma espada fresca.





À beira do mar, no outono,

teu riso deve erguer

sua cascata de espuma,

e na primavera, amor,

quero teu riso como

a flor que esperava,

a flor azul, a rosa

da minha pátria sonora.





Ri-te da noite,

do dia, da lua,

ri-te das ruas

tortas da ilha,

ri-te deste grosseiro

rapaz que te ama,

mas quando abro

os olhos e os fecho,

quando meus passos vão,

quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar,

a luz, a primavera,

mas nunca o teu riso,

porque então morreria.





Pablo Neruda





***














Musica para a Poesia: For Your Love - Stevie Wonder

Sentimentos?


É normal acordarmos mais felizes ou mais tristes, mais sorridentes ou mais sisudos, com vontade de mandar flores ao mundo ou mandar o mesmo mundo se explodir, mas é normal quando isso se torna uma constante? Que sentimento é este que, mesmo vendo as adversidades e os problemas cotidianos, que normalmente esgotam seu limite da paciência e da ansiedade, continua a te fazer sorrir, cantar, acordar bem disposto para tarefas rotineiras e maçantes, como escrever uma monografia, por exemplo? Que estranha calma é essa que faz parecer seu mundo andar mais lentamente, ou ,pelo menos, ter a consciência de que você pode fazer tudo com menos ansiedade, com menos pressa? Que leveza é essa que acredito poder, mesmo com algumas dezenas de quilos a mais, voar e espairecer a mente? Que tranqüilidade é essa que me faz ter confiança daquilo que sempre duvidei em 21 anos e tomar como certeza da noite pro dia? Que felicidade instantânea, que diferente paz é essa que consegue paralisar um hiperativo como eu em pleno domingo e o deixa deitado na cama, reflexivo, pensando em tudo, em nada, ou só sentindo, deixando a melodia de Johnny Mathis te guiar para onde não sei?


Já disse uma vez não gosto de usar certos rótulos em vão. Apaixonado? Enamorado? Envolvido? Admirado? Não sei, talvez nada por enquanto, talvez tudo, só sei, e tenho aprendido a cada dia mais, que é um sentimento tão bom e tão saudável que não quero pensar no futuro, pois posso perder o melhor do presente. Uma sensação de vigor, de ser amado e amar. Oras, podemos desejar nosso sucesso profissional, e pessoas renunciam seus sentimentos em prol desse sucesso, mas não há algo melhor, mais edificante, do que a certeza de que pode fazer toda a diferença a alguém, pode fazer alguém amado se sentir bem, mas, sobretudo, o contrário: de ser sentir bem, se sentir amado, de perceber de que nenhuma ilha é uma ilha, por mais que busque.


As pessoas mais machucam do que edificam, porém, certos ‘alguém’ nos engrandecem sem perceber, de forma natural e espontânea, que só podem ser comparadas a anjos. Resta a mim e a todos apenas admirar, às vezes no silêncio, e torcer que esse anjo se humanize e veja a ti também como um anjo. Você já parou para pensar se você já bem fez a alguém hoje. Qualquer um: seu namorado, seus pais, seus amigos. Uma palavra amiga, um abraço, um beijo? Coisas fáceis, simples, e que a gente não dá muito valor? São exatamente essas as que mais me encantam.É exatamente isso que busco fazer, por mais falho que seja: que se sintam tão bem quanto eu me sinto por causa deles. Da mesma forma que posso ir ao céus com um elogio despretensioso, posso cair no vale da amargura e da tristeza com uma palavra despretensiosa também. As pessoas não querem ter mais controle sobre o que dizem, sobre o grande tesouro e a grande arma que ganharam geneticamente: o poder de usar as palavras.Por isso, são tão inocentes quanto culpadas quando elevam ou destroem alguém.


Mas o mundo pode cair, o Brasil se tornar uma ditadura comunista, o Flamengo descer à segunda divisão, que eu to aqui feliz e em paz. Não sei até quanto tempo, sentimentos são como nuvens: se dissolvem na mesma velocidade que aparecem e cobrindo a todos, nos envolvem numa atmosfera impossível de sair por recursos humanos. Mas o que vale é o agora, então sinta o presente: não sei até essa história vai embora alguns flashes resolvam, de quando em vez, passar pela minha mente, devaneios típicos de um ansioso em recuperação, contudo sei que me faz bem, muito bem. Gostaria de gritar ao mundo seu nome, mas o bom senso e a educação me aconselham a berrar internamente, sem orgulhos, sem medo nem ansiedades. Eu to me vendo diferente, mais leve, menos ansioso, mais...tantas coisas que acredito não ter palavras para descrever.


Afinal, o que é isso? O que eu tomei?







***





Musica do Post: Isn't it the Romantic- Johnny Mathis







quinta-feira, setembro 01, 2005

Mas eu me mordo de Ciumes...





“Por favor, não mande nenhum recadinho, nenhum scrap, nenhum depoimento no meu orkut, por favor! Por favor!”




Foi assim que uma aluna, em pranto convulsivo, reagia a minha descoberta de seu orkut. O motivo? O namorado sempre sente ciúmes, e isso ocasiona brigas que levam uma menina a chorar só ao lembrar que poderia haver outra.Sinceramente, aquilo me assustou e pensei em dizer algumas coisas, por vezes desconexas, sobre o ciúme.





Ciúme: alguns dizem que é totalmente ruim, outros, dizem que tem seus benefícios.Como tudo na vida, nada é tão mal ou tão bom, portanto, o seu equilíbrio é fundamental, e digamos, até saudável num relacionamento. O problema está quando este sentimento tão avassalador se transforma em obsessão: a cada dia mais, há um retorno, ou desvelamento, do sentimento de posse das pessoas para com quem elas dizem que ‘amam’, como se estas fossem coisas, completamente sem vida social, sem rede amigos. Casais de namorados são os mais atingidos por essa onda: é natural, e até compreensível, que haja uma espécie de autoproteção inicial: ficam mais pertos, não saem com tanta freqüência com os amigos, se devotam aos seus agora amados. Mas quando passa o tempo do deslumbre, continuar a esquecer os amigos porque o(a) namorado(a) assim exige,porque tem ciúmes, é ridículo. Ninguém é posse de ninguém, principalmente porque as pessoas tenderam, gradativamente, a esquecer a real intenção do namoro, que é o de se conhecerem, e não de agir como se fossem casados, e, no caso, mal-casados, e interferirem na vida outro e na sua vida social.






Isso nos leva a pensar em razões, dentre várias, do ciúme assombrar as nossas mentes (sim, a minha também é afetada, como veremos mais abaixo).A primeira é a insegurança:essa é clássica, todo mundo, nas rodas de conversa da vida, diz que é insegurança o principal motivo dos ciúmes. E quem sou eu para discordar? Concordo, pois as pessoas cada dia mais se sentem menos capacitadas a acreditar em si mesmas, nas suas qualidades, virtudes que possam levar o seu parceiro(a) a admira-lo a ponto de tê-lo como o amado, embora isso não exclua ao mesmo tempo, de ter amigos ao redor.E isso produz, imediatamente, um falta de confiança no outro. Já sei que uma das principais dificuldades da minha futura amada será o de entender o meu relacionamento com as minhas amigas, que são o grupo majoritário do meu ciclo de amizade. E, atrelado a insegurança em vertiginoso crescimento, há uma segunda razão, para mim, que também é o causador do ciúmes: ao caráter descartável dos relacionamentos, cada dia mais efêmeros, cada dia menos profundos, cada dia menos estáveis. A onda do ficar entrou e viciou, como um bom chocolate, as pessoas. Eu já fui mais radical quanto a isso, hoje em dia, entendo as vontades das pessoas sem julgá-las, contudo, por vezes há o exagero: hoje o n°1, amanhã o n° 2, no outro dia, o n°592, depois de volta ao n°1 e se acha feliz por isso. Isso gera dentro da pessoa a falta de uma estabilidade, e que, quando se namora, é um produtor de traições a torto e a direita. Que contradição: enquanto o ciúme aumenta, a descarte de relacionamentos também recrudesce. Não há profundidade porque não há confiança no outro. Mesmo que isso visto pelos outro como bom, não consigo me imaginar num relacionamento superficial: estando em um relacionamento, o que não é tão fácil assim, entro no meu submarino do amor, rumo ao mais profundo, ao mais denso, de preferência, sem previsão de volta. Apesar de doer deveras quando o comando aqui de cima manda o submarino emergir, é uma sensação indescritível, sensação de amar incondicionalmente, mesmo sem retorno, amar altruistamente.





Há outros tipos de ciúmes, fora do campo amoroso. O ciúme do amigo é algo tão presente quanto velado entre nós, talvez porque neste se revele a real insegurança que há em nós. Falo por mim agora: não tenho tanto ciúmes quando estou com a pessoa amada, mesmo porque sempre fica bem claro que, se ela está comigo, é por que alguma coisa eu posso doar, e quando não há mais amor, seja a definição desse termo tão polissêmico, fica claro que não tem mais porque continuar. Entretanto, com meus amigos, pode me chamar de Sr.Ciúmes: inseguro como eu sou, sempre acredito que fiz alguma coisa de errado para um amigo não puxar assunto, convidar para uma festa, ou mesmo me contar sobre uma nova amizade. Ah! As amizades deles, se eu pudesse, devoraria todos, e deixava só com um amigo: eu. Também é um misto com carência: pessoas que se isolam por outras questões que não a sua vontade, sentem necessidade do toque, mesmo que virtual: um telefonema, um cartão, um scrap, uma carta.(Tenho saudades das minhas cartas, gosto de enviar, mas isso fica para uma outra hora). Embora guardadas as devidas proporções, estou tão errado quanto o namorado da minha aluna, ao tentar, num esforço egocêntrico, ter a mim como o único amigo dos meus amigos. Cada dia mais estamos mais egoístas, mais voltado para as nossas necessidades, nossos desejos, nossas vontades, esquecendo dos outros. Tento, a cada dia, e com esmero não ser mais assim, e to melhorando, o que prova que há cura para o ciúme, mesmo embora sofra ainda com o desinteresse de amigos que tanto querem bem, que pareciam ser daqueles amigos, quase irmãos, e inexplicavelmente gelam o seu comportamento, causando profundos furos numa alma já insegura, que doem mais do que qualquer rompimento de relacionamento amoroso.






Mas um pouco de ciúme, beirando o ‘charminho’ é vital para um relacionamento: demonstra interesse, preocupação. Mas mesmo assim, tem que se tomar cuidado com as falsas generalizações: nem todo homem que é generoso, amigo, conselheiro, que dá presentes fora do período festivo é alguém que tenha algum interesse pessoal. Falo por mim, novamente:gosto de presentear, mandar cartões, telefonar não, sou muito tímido para isso e invento que não gosto de telefone, enviar músicas, scraps, sms, etc. E não vejo mal nisso, mesmo não faça muito isso com as amigas que namoram-casadas-noivas-ficantes-enroladas, pois declarações de amor não se resumem a eu te amo, e não se prendem a uma pessoa só, de outro sexo: amigos são amantes, eternos doadores e renunciadores de si em prol do outro.





Uma fala totalmente parcial: não percam sua individualidade por causa de outra pessoa, falo isso de experiência própria: amores passam, amizades permanecem, mas quando esquecidas tentar reconquista-las são tão difíceis. Olhe ao seu redor e veja se realmente ama parceiro(a) ou esta apenas acomodada a um relacionamento dito estável, seja pelo laço de tempo ou coisa parecida.Isso é a pior das coisas: a falta de amor. Isso tem conseqüência, que posso falar, traumáticas.






Amem, vivam, beijem, curtam, mas não se isolem, não prometam a mim, mas a vocês mesmos.







***
Musica do Post: Trapped In the Closet - R. Kelly (Um suspense numa música em 5 partes, fenomenal)



quarta-feira, agosto 17, 2005

Ri é o melhor remédio


"Me sinto preparado para assumir a presidência da República"


(Severino Cavalcanti)





***





Musica do dia: "Don't Worry, be Happy" (Bob McFerrin)

quinta-feira, agosto 11, 2005

Momentos Poéticos III


A Matemática, quando bem empregada, pode ser uma fonte de inspiração maravilhosa. Como historiador preciso admitir isso: a matemática é fascinante.


Mais fascinante é essa canção do mestre dos mestres, Tom Jobim.






Aula de Matemática


Pra que dividir sem raciocinar


Na vida é sempre bom multiplicar


E por A mais B


Eu quero demonstrar


Que gosto imensamente de você



Por uma fração infinitesimal,


Você criou um caso de cálculo integral


E para resolver este problema


Eu tenho um teorema banal


Quando dois meios se encontram desaparece a fração


E se achamos a unidade


Está resolvida a questão


Prá finalizar, vamos recordar


Que menos por menos dá mais amor


Se vão as paralelas


Ao infinito se encontrar


Por que demoram tanto os corações a se integrar?


Se infinitamente, incomensuravelmente,


Eu estou perdidamente apaixonado por você.







Musica do Post: Aula de Matemática - Tom Jobim (Óbvio, não?)

quinta-feira, agosto 04, 2005

Apologia à Indignação


Frase da semana: “Eu fico fascinada, parece que estou assistindo ao Roque Santeiro” (Lucia Guimarães, acerca da CPI do sei-lá-qual-nome-tem-aquilo)


No último dia 2 de agosto, o Brasil parou. E dessa vez não foi por causa de alguma final esportiva. Pelo contrário, o país se aglomerou em bares, restaurantes ou mesmo em lojas de eletrodomésticos para assistir a uma acareação entre o ex-ministro da Casa Civil, o agora deputado José Dirceu ,e deputado Roberto Jefferson. Entre as mútuas acusações e defesas, o óbvio se sabe: o que queríamos é que não houvesse chegado a tal ponto. Pior só o fato de concluirmos que falta a sociedade, sobretudo a nova geração, consciência política, consciência de não se conformar com o rumo que a “democracia” brasileira esta seguindo. Observamos também, cada dia mais “público e notório” (tomando uma expressão do Dirceu emprestado), o desleixo e a descredibilidade que a disciplina História tem tomado as mentes de nossa sociedade. Não são todos que têm essa falta de zelo. Não que todos aqueles que não são dessa ‘nova’ geração tivessem a consciência da importância de tal disciplina.Nada de generalização! Mas trabalhemos com o fato: poucos são aqueles que se interessam pela história e enchem de importância com a mesmo afinco que fazem com as Matemáticas, por exemplo (nada contra, são tão necessárias quanto a História). Mesmo dentro do núcleo estudantil que se importa com esta disciplina, ainda temos que dividir entre o grupo que se importa pelo fato de saber da necessidade de ter um pensamento crítico, e aqueles que só se interessam pelo pragmatismo do vestibular.


Sim, o pragmatismo e o conformismo são as tônicas das buscas de nossos jovens: Economizar e poupar energia sempre, esse é o lema. Dentro de todas as modas, de todas as tecnologias, procura-se o conforto, o fácil, o agradável, o prazeroso, o rápido e o certo.E pagando para isso um alto preço: o da liberdade de pensamento. Ficamos presos àquilo que os outros pensam, o que a mídia nos impõe a pensar, e por extensão, ao que certos grupos dominantes querem que pensemos e que não pensemos. Nos indignamos apenas por aquilo que a media quer que nos indignemos, nos alegramos apenas por aquilo que eles querem que nos alegremos. Criticamos ou elogiamos aqueles que alguma personalidade (detentora de uma arma, por vezes mal empregada: a formação de opinião) outrora criticou e/ou elogiou. Os mensalões da vida republicana existem há tempos, e agora a opinião pública se revolta? Antes tarde do que nunca, diriam alguns, e eu concordo, mas já parou para pensar que esse tsunami foi formado pela imprensa? Que antes do interesses democráticos, há o interesse privado pelo furo, pelas manchetes, pela audiência.Não que eu não goste de conforto e prazer, muito pelo contrário, mas aspiro sempre a algo maior: a minha liberdade. Temos um quadro favorável, numa visão macroscópica, em relação aos jovens da época da ditadura, que não viam nos jornais nada que o governo pudesse considerar como negativo para o país(explicitamente, é claro, afinal, criatividade sempre foi o forte do brasileiro): desde o óbvio balanço político até uma epidemia de meningite, e ainda sim vemos pessoas que quando vêem algo relativo a política na televisão, logo mudam de canal, ou para algum programa de variedades ou esportivo, quando não se trancam mentalmente nos Orkut ou menssenger da vida e esquecem que há vida exterior. Estamos formando jovens claustrofóbicos,que, ao contrário do que se imaginam, não pensam cada vez mais rápido, e sim, ao pensar apenas as idéias-chaves , o comum, o óbvio, não pensam, pelo menos criticamente.


E o estudo da História, que em tese deveria romper com esse quadro de comodidade se torna a matéria do “Pra que se estuda isso?” “Para que estudar o passado?”. Em parte isso se explica pela falta de crítica que temos, no entanto , o fato de termos professores que não ajudam em nadaa criarmos esse hábito de pensar é tão ou mais importante. Não estamos pedindo revolucionários, marxistas, anarquistas, comunistas, ou qualquer “istas”. Estamos pedindo graduandos pensantes, críticos, que saibam que a faculdade de História não serve só para ter um emprego ou , em menor escala, ter um status quo de intelectual.. Que tenham a visão de que são tão formadores de opinião quanto os intelectuais “produzidos” pela imprensa, e que saibam que,se não for feito alguma coisa já com esses jovens, chegará o dia no qual seremos meros reprodutores, sem influência alguma. O estudo da História é o espaço que abrimos para o processo do pensamento crítico, de começar a questionar, duvidar, se inconformar. E isso é doloroso e lento. E muito dos nossos graduandos de hoje não esta preparado para essa honra. E muita gente não está interessada que tenhamos tal objetivo enquanto educadores.



Enfim, longe de querer isso, é melhor começarmos dar valor ao que temos hoje, a nossa liberdade de pensamento, a de não sermos obrigados a nos conformarmos com essa imposição de cultura, que dá a falsa idéia de que somos seres pensantes, antes que a gente tenha que buscar, nas ruas, de novo, essa graça. E que possamos entender, dentre as várias e eruditas (algumas bastantes sacais) definições, de que a história nada mais é do que “a ponte que liga o seu mundo ao mundo”.



Afinal, ninguém é uma ilha.


***

Musica deste post: “Strangers in the night”Frank Sinatra

(Convenhamos:antes essa do que Nervos de Aço interpretada por Roberto Jefferson, não?)



Ps do autor: esse post era até o primeiro parágrafo um enunciado de uma prova para uma turma de pré-vestibular. Quando dei por mim estava na segunda página de divagações, logo eu não cometeria o crime a minha inspiração, tão apagada nos últimos dias, de parar.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Sociedade dos Poetas Mortos


"A gente não faz amigos, reconhece-os."(Vinicius de Moraes)


Tem certas coisas que me fazem sentir muito bem: algumas bem extravagantes, como tocar contrabaixo no escuro, comer sorvete no inverno antártico, e outras tão comuns, como um beijo apaixonado, um abraço sincero, ou mesmo perceber que plantei bons frutos. São gestos simples, discretos, mas que me deixam profundamente feliz, por vezes emocionado.


Quando decidi, ou melhor, quando percebi que meu dom era estar numa sala de aula, ensinando e aprendendo com meus alunos, sabia que não seria fácil. Primeiro, porque eu já tinha noção do desprezo moral e econômico que os professores no Brasil sofrem. Mas isso nunca foi um problema para mim, nunca quis ser rico. Problema mesmo eram minhas idéias um tanto quanto subversivas a respeito do "ser" professor.


Por que autoridade? Por que porta-voz da verdade incontestável? Por que apenas professor, fechando as portas para novas amizades? Estas e outras perguntas me incomodavam desde minha tenra adolescência, principalmente quando uma professora de Química que no seu primeiro dia de aula, usando uma calça Gang, incomodada com os óbvios sussurros dos garotos com os níveis de testosterona acima da média saudável, manda o recado: "não vim para ser amiguinha de vocês!". Pensei que isso fosse coisa de alguém que tem um marido que dormiu de calça jeans no dia anterior, mas quando entrei na faculdade e vi como alguns colegas pensam, percebi que era mais grave do que imaginava. A mística da verdade inabalável, achar que só pelo fato de ter uma faculdade de uma matéria específica sabe mais do que qualquer aluno. Santa Ignorância: no pouco tempo, menos de 3 anos, que leciono, tive o prazer de conhecer pessoas que com sua experiência de vida, ou mesmo com seus lazeres conhecem mais sobre um determinado tema do que muito professor. A esses alunos tenho uma eterna dívida, porque, mesmo sem eles perceberem, eu aprendi muito com eles. Isso remete a questão da autoridade: tudo bem, eu entendo que é necessário, algumas vezes, ser mais rígido em algumas posições, mas "autoridade" não é um termo um tanto quanto autoritário? Eu prefiro me considerar uma espécie de irmão mais velho: não tem a autoridade do pai, contudo os alunos, irmãos mais novos, lhe dão ouvidos, por mais que discordem. Afinal, o aluno não precisa concordar com tudo que você diz, principalmente em História, onde você dá ferramentas para ele pensar.


Mas nada me incomoda tanto quanto a questão da impessoalidade do professor. Alguns chamam isso de ética profissional, eu chamo isso de elitismo idiota. Eu, antes de ser professor, sou humano, carne, possuo desejos, tenho afinidades, interesses, contradições, trocando em miúdos, não sou uma ilha: porque cargas d'água eu tenho que me afastar de pessoas que podem ter os mesmos interesses que eu, que podem ser amizades em potencial? A Idade, maturidade? Ora, Vinicius de Moraes estava certíssimo quando disse que "A gente não faz amigos, reconhece-os.". Eu tenho amizades com alunos, e me orgulho disso, eu sei não misturar as estações, sei aonde vão os limites da amizade e do profissionalismo, e eles também sabem disso. Faço questão de colocar meu MSN, meu orkut, meu blog no quadro tanto no pré-vestibular, quanto na 5ª serie onde sou estagiário. A melhor coisa que tem é estar no meio dos alunos no intervalo: você ri se diverte, de si e dos outros, sabe das últimas. A sala das professoras é tão triste e melancólica perto deste.



Quando tive essas idéias, um pouco, confesso, exóticas de como queria ser na sala de aula, era apenas um mero professor de uma Escolinha Bíblica Infantil, o tio da galera dos Juniores, entre 9 a 12 anos. Trabalhava assim com eles, sendo amigo deles, sendo acessível, mas nunca pensei que eu pudesse causar impacto na vida deles. As minhas idéias amadureceram, mas na sua essência continuaram as mesmas. Estes alunos cresceram, perdi um pouco de contato, nem imaginava que eles me reconhecessem na rua...


...quando numa bela noite de sábado, voltando à igreja onde fui professor , vejo minha melhor aluna da época, Ana Carolina Santos, sentada,conversando, como uma natural adolescente. Lembro-me dela pequena, com seus 10, 12 anos. Imaginei que ela fosse me cumprimentar, nada demais, principalmente na soberba juvenil, onde tudo é "Mico". Mas para a minha emoção e surpresa, eu vejo uma bela moça descendo, chorando, trêmula, me abraçando tão forte e tão carregada de alegria, que não tive outra escolha do que me emocionar junto com ela. Neste instante de silencio na metrópole, consigo relembrar perfeitamente daquele momento, onde ela só conseguia dizer: "Por que você sumiu? Você faz falta!". Desfruto desse momento, tendo a noção de um sentimento agradável, pois a sensação de nós nos abraçando ainda é viva e latente em meu corpo. Mais do que uma sensação boa, ela foi a concretização de que minhas idéias, que não tenho a intenção de que seja um manual pedagógico para ninguém, estão no caminho certo, que consigo ver bons frutos no que estou plantando. Não sou o dono da verdade, nem sou um gênio, meu único desejo é ver professores um pouco mais humanos, mais sensíveis, e não alguém que, narcíscamente, se auto-intitula "O professor”.



São de sensações assim que preciso na minha vida.


Só falta o sorvete.


***



Musica do Mês: Diana Krall - The Took Of Love

segunda-feira, julho 11, 2005

Musas


"Porque a vida de nada vale sem a Musa." (Rodrigo Farias)
Elas são espécies raras: aparecem tão espontaneamente que não conseguimos nos desvencilhar de seus encantos. Rápidas como as águias invadem nossas mentes, corpos, almas e tomam conta dos nossos pensamentos, dos mais científicos aos meros devaneios.Estão para descobrir alguém, algum entorpecente, alguma coisa que tenha tanto impacto, penetre tão profundamente em nós, do que as musas.

Não obstante, sua presença não é, de forma alguma, perniciosa: possuidoras do dom do estro, nos inspiram a ponto de nós mesmos ficarmos surpresos com nossos feitos: de Leonardo Da Vinci, com sua Monalisa , até este mero escritor, com seus textos. Acordar e se lembrar, ou ser lembrado pela contração do coração, de sua musa, torna nossos dias mais colorido. Os dias ruins, que existem para todos, não conseguem levar-nos a completa tristeza, uma vez que ao pensar em nossas musas, o sorriso redentor aparece no canto da boca.

Todos tiveram, têm, ou terão suas musas. Essas nove deusas que presidiam às ciências e às artes na mitologia tem várias facetas: ao contrário do consenso geral, musas não são necessariamente seres do sexo oposto (ou do mesmo), ou seja, as responsáveis pelos platonismos nossos de cada dia. Elas podem ser a nossa carreira, a nossa casa, nossos livros, nossos amigos, ou mesmo nós mesmos. Mas quando tratamos exclusivamente da Suposta divindade ou gênio que inspira a poesia, temos que evitar o mesmo erro que cometeu Ícaro .


Musas são sonhos, bons sonhos, seres poetizados por nós mesmos, por isso a falta de imunidade a elas, só que podem se espalhar como poeira quando queremos toca-las. Sempre estamos em busca da Musa ideal. Só não podemos, como Ícaro, perder nossas asas quando tentamos alcançar o inalcançável . E aí está um problema, pois sonhos também são motivadores de nossas vidas, variando de proporção, todos corremos atrás de nossos sonhos, mas como saber se um sonho é alcançável ou não? Não há receita para isso, e isso é tão atormentador quanto fascinante: nenhuma musa é igual a outra, são complexas, encontram-se no limite do real e do imaginário, podem ser tocadas como podem se dissipar em nossas mãos. E se não temos esta noção corremos o risco de esquecermos que a realidade, por mais nublada que seja, é,mesmo assim, mais acessível.Um encontro pessoal com sua musa pode ser um sonho, o tempo pode parar, as pessoas em volta podem se tornar, num estalo,tão desinteressantes quanto desnecessárias. Uma música inebriante pode invadir o seu ser, e você pode sentir dentro de si uma atmosfera de alegria que a última coisa que quer é sair dali. Mas quando se vê tentado a encostar na sua suave e tenra pele, quando você se vê tentado a nunca mais deixa-la escapar da sua vista, cuidado...

... você pode cair em si, percebendo que está a contemplar as estrelas, numa estrada noturna, de volta para casa.


De mãos vazias.




***


Musica das Férias: Luiza – Tom Jobim



domingo, julho 10, 2005

Momentos poéticos II



Dando continuidade a série, um poema que conheci em Patch Adams e é o meu predileto:




Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
(Pablo Nerruda)
***
Musica do Dia: Forever By Your side- The Manhatans

terça-feira, junho 21, 2005

Platonismos

Dias nublados, com uma minúscula garoa, tendendo a esfriar (embora eu já esteja vestido como se estivesse no pólo norte) sempre foram os meus prediletos. E hoje não deve ficar por menos, pois além da inspiração oriunda da natureza, acordei hoje pensativo, reflexivo, cheio de dúvidas, uma angústia amalgamada com uma ansiedade que só numa coisa pensei: preciso escrever.

Platão: esse sábio conseguiu definir uma categoria de amor na qual eu, constantemente, me enquadrei, enquadro e me enquadrarei ao longo da minha vida. É uma sensação totalmente diferente de quem já amou uma vez na vida: é sublime, inebriante, atormentadora, confusa, depressiva, regojizante entre outras característica que daria um volumoso livro.

Talvez seja a tentativa de se encontrar a mulher perfeita, ou então fugir da realidade da solidão, não importa. Importa é o fato desta acontecer espontaneamente ou racionalizada, perto mas tão longe, ou mesmo, longe mas com a impressão de ser tão perto a ponto de pensar em acariciar sua pele majestosa, ainda que tal pele majestosa esteja a algumas centenas de quilômetros longe de ti. É um sentimento que seja dos mais difíceis de ser romper: é mais difícil romper consigo mesmo do que com o outro, e neste processo platônico, se quiseres despedaçar tão ambíguo sentimento, terás que despedaçar a ti mesmo em primeiro lugar.

Sobre amores platônicos há uma considerável literatura contando passo a passo o que acontece com as pessoas vítimas desse bem, como se tudo nesse mundo pudesse ser reduzido a receitas de bolo. E como tais receitas você encontra a torto e a direito por aí, prefiro dar a(s) minha(s) experiências, que nunca tiveram finais felizes como os amores platônicos hollywoodianos . A minha adolescência entrecruzou-se, indelevelmente, com amores platônicos, de modo tão rápido e tão inexplicável que quando vi, não conseguia me imaginar mais com outra pessoa a não ser ella. Fui aos 4 cantos da terra para buscar sua amizade, criei e recriei o céu por ella, meu coração vivia em coma: e só acordava quando meus olhos a viam, ou escutavam a sua doce voz. O tempo não foi meu inimigo, pelo contrário, dois anos são 730 dias pensando incessantemente nella, o que é, no mínimo razoável. Bem, tive que me contentar com sua grande amizade, o que para mim, naquele período era como se fosse um prêmio de consolação. Pensei: “não vou cair nessa armadilha novamente!”. Enganei-me a mim, mas não ao meu coração, que é padece do mal da surdez. Mas dessa vez seria mais maduro, mais honesto comigo, menos altruísta. Foi quando percebi que fazia as mesmas coisas, que no amor platônico, não há maturidade ou imaturidade, há desapego a sua pessoa em prol de outra. Sofri novamente...

Passaram-se quase 5 anos, pensei que tinha superado essa fase juvenil de minha vida, mas como o andar na bicicleta, uma vez que você aprende, não esquece nunca e sempre volta ao ponto inicial. Pior, ou melhor, da mesma forma do que aos seus 16 anos. Mas há suas diferenças: se outrora fora espontâneo, dessa vez foi escolhido, pensado, racionalizado. Mas novamente sofri, da mesma que me alegrei dezenas de vezes. É processo viciante, a adrenalina no corpo é arrebatadora.

Mas nem tudo é lamento. Em todas, eu aprendi muito mais do que perdi. Não entrarei em pormenores, mas praticamente tudo que eu sou hoje é graças ao meu platonismo: desde dos livros que leio, do meu gosto musical, o que é engraçado, pois eu sou diferente de quase toda minha família (graças a Deus!), até, e acredite-se se quiser, a minha paixão pela docência, a escolha da minha profissão.Tão entranhado nesse universo feminino que adquiri um conhecimento, pequeno, reconheço, deste tal mundo tão fascinante. Mas, sobretudo, aprendi a fazer alguém feliz, não sei se consegui algum dia, mas eu ainda mostrarei.

Mas é difícil eu pensar como o cantor, em acreditar só vou gostar de quem gosta de mim .

Talvez eu goste de ser, ou estar assim. Talvez porque acredite que possa acontecer para mim o que aconteceu com Simplício Gomes e a Dudu, do conto de Artur Azevedo. Termino esse passeio na minha mente pedindo para quem esta a ler-me , que se delicie com esse conto, e imagine quão doce final eu quero uma vez na minha vida.

Mesmo em sonhos.

segunda-feira, junho 20, 2005

Momentos Poéticos I

De volta ao Planeta dos Macacos!

Mas como todo regresso a normalidade, pelo menos durante esse 1 mês e meio de férias, faz-se necessário alguns instantes de re-adaptação social, política, religiosa, e, sobretudo, emocional. Deixo então que o poeta descreva, com uma admirável perfeição, meu estado de espírito das últimas semanas.

Senhoras e senhores, é com imensa satisfação que vos apresento,
Luis de Camões







Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela
está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no
pensamento como idéia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
Antes de partir, deixo uma frase que acho que combina harmonicamente com tudo isso aqui escrito. Agradeço minha queria, amada, salve salve amiga Cinthia Rocha que indicou o site e essa frase por achar que era a minha cara:
Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!" - Mario Quintana

Mais Nelton impossível.

domingo, junho 19, 2005

Uma Câmera na mão e ...

Sucumbi aos encantos de um Flog ou Flickr, mesmo tendo certeza de que não sou o mais fotogênico dos homens.

Já que abri um post para contar as novidades, agora vos-me-cês podem se cadastrar aqui no canto direito deste singelo blog e sempre que eu atualizar o mesmo, vocês serão premiados em serem os primeiros a saber: sem precisar entrar no blog todos os dias (Nelton, sem delírios!) ; sem encheção de paciência do dono do blog para entrar. Simples, rápido e prático.

Musica da semana: Circles , Mariah Carey

sexta-feira, maio 27, 2005

Quietude

Silencio...


Oh, a mais bela das melodias, com seu acorde único e tão subjetivo. O que seria do som se não fosse o silêncio? Este é o artista: dentro daquele amontoado de complexos sonoros, ele molda e o transformam na mais bela harmonia. Pena que o este é dado um papel secundário, quando não é completamente desdenhado.


Vivemos num mundo tão barulhento, tão poluído,que o silencio é como um grande refletor aos nossos olhos: incômodo. Estranhamos quando o outro esta silencioso, achamos logo que não está bem. Engraçado, a quietude sempre leva esse rótulo de tristeza ou apatia, talvez seja pelo fato das pessoas não saberem escutar o silêncio.Talvez não.


Eu gosto do silêncio. Traz-me paz, calma, serenidade. Eleva meu espírito a um estado indescritível.Também gosto do som: alegra minha alma, me desperta, alinda. Mas deste dois, eu prefiro ao primeiro. Uma das primeiras lições que tive na escola de música, e que todos devem saber, é que saber respeitar a pausa. Pausa é igual ao silencio, instante de profunda concentração, contudo, instante de relaxamento frente à tensão das notas que foram e que serão tocadas.


Sou um homem que fala muito. E põe muito nisso. Falo alto (recebo diversas reclamações por isso), gesticulo mais ainda. Sou desastrado, hiperativo, falo pelos cotovelos, às vezes falo o que não devo.Preciso ainda ser mais diplomático, ter menos papas na língua, amadurecer o vocabulário.Mas sei me calar. E faço isso com tanta naturalidade, com tanta espontaneidade, que aos outros parece anormal. É como se eles nunca esperassem isso de mim.


O silencio é meu amigo, um dos melhores, inclusive. Conviver com ele não é nada fácil: sua sinceridade chega a ser inconveniente e constrangedora. Não consigo mentir nem enganá-lo, tampouco omitir algum fato ou detalhe a ele. Parece que ele tudo sabe, me escuta como se já tivesse escutado aquela história outras vezes, mas mesmo assim está ali, do meu lado, sem parecer cansado. A cada dia tento aprender a saber tirar mais proveito dessa união.Tem dias, e ultimamente bem recorrentes, que a minha vontade é ficar quietinho, de preferência quase que imperceptível, só escutando os outros, sem julgar, sem criticar, só escutar, envoltos em meus pensamentos, conversando com o meu silêncio.


Mas este não é sinônimo de solidão, tampouco, sinônimo de parceria. Não é nem um, nem o outro, é apenas silêncio. Também não se resume a falta de som. Cada um tem que achar seu silêncio, aquele que foi feito para você. Isso demanda tempo, paciência, interesse. Como tudo tem seus prós, assim como seus contras.

Meu silencio é bem barulhento: numa casa onde você não é o único, nem o “dono da bola”, pouco se pode fazer a não ser encontrar outros “silêncios”. O meu tem como nome Jazz: adoro todos, ou quase todos estilos de musica (acho engraçado o forro de duplo sentido mas ainda não suporto o sertanejo), escuto-os quase que 24 horas, todavia, quando estou escutando jazz, eu não estou nesse plano, na verdade não estou em plano algum. Estou dentro da harmonia, navegando sobre as notas, procurando as pausas, buscando o inexplicável, uma endorfina viciante. As vezes, um violão do lado (um dia terei um piano de calda), alguns acordes, mas, no fim, a busca é a mesma: o silencio.

Pensar em nada especificamente, mas ficar submerso a tudo que vem a mente. Resolver algumas duvidas, criar outras tantas, deixar algumas pela metade. Não ter compromisso com nada, e amadurecer com isso. Pois, no nosso idealismo juvenil, cremos que podemos mudar o rumo da onda. Nessas horas, vale a máxima do surf: surfe, apenas
Surfe.


Equilíbrio...


É como esse texto aqui, que não tem lógica, nem fim. São apenas pensamentos, traduções de conversas com meu silêncio


Devaneios...

domingo, maio 08, 2005

Sobre amigos e colegas

"Vc é um eremita? Você é muito solitário, gafanhoto!”.

Com essas palavras, ditas não faz muito tempo, um amigo meu alertou-me sobre uma virtude minha e sobre um defeito meu: a minha severidade nas escolhas das amizades e minha solidão consciente, respectivamente.

Mas a minha vontade de escrever sobre amizades (o título do texto é um plagio confesso de "Sobre meninos e lobos") foi depois que algo tão agradável aconteceu, mas tão agradável e prazeroso que tinha até esquecido que existia: a formação de uma amizade.Foi tão honroso que mereceu a menção no blog, não somente menção, mas um post inteiro, intrometendo-se na análise sobre minhas manias.

Deixo bem claros aos quatros ventos: sofro de uma solidão espontânea. É algo tão interiorizado, tão consciente que se tornou algo intrínseco, parte da minha natureza. Não sou de viver isolado do mundo, mesmo porque, para quem me conhece, falo pelos cotovelos - escuto ainda comentários de "vc esta bem? Não, nada em especial, é pq vc esta muito quieto!” - contudo eu gosto de um silencio, de apenas o som da natureza, tudo bem que aqui na metrópole a natureza se resume a buzinas,batidas, funk (quer bolete na veia!), trens, tiros..., Mas eu gosto estar sozinho, de pensar sozinho, de falar sozinho (já prometi um tópico só sobre isso, mas falta vontade...), ou seja, de SER sozinho.Não que isso seja algo permanente, pelo contrário, sonho com minha família tradicional bastante movimentada, mas sabe tem horas que quero só eu e um livro, eu e um computador, eu e uma musica ou mesmo eu e um violão (terapia para todas as horas).

Justamente por isso, tenho uma espécie de dificuldade de relacionamento. Para quem já entrou no meu orkut vê num dos depoimentos uma frase que achei fantástica sobre mim: "...ou o amam ou o odeiam. ". Não há meio termo para quem me conhece, ou será meu amigo ou prefere não ser nada meu, apenas um companheiro de trabalho, ou de faculdade. Para mim então, a coisa é mais intransigente, não há meio termo para mim: ou é meu amigo ou não é. E hoje em dia, cada vez mais desumanizada, é tão difícil encontrar alguém que tenha prazer ou, no mínimo, paciência para querer ser um amigo, sobretudo, um amigo meu. A essas pessoas, eu gostaria, se pudesse, de dar uma coroa, um premio, um feudo ou etc.

Digo: tenho n colegas, dos mais variados tipos e gostos, de todos os tamanhos e idades, do ateu, ao mais fanático e fervoroso protestante. Mas amigos, amigos no sentido estrito da palavra, são poucos e se esgotam nos números das minhas mãos.Até menos, se fosse mais exigente.

Mas o que é amizade para Nelton Araújo? Algo tão simples, tão banal que desacostumamos a fazer: se importar com o outro.Nenhuma outra frase poderia resumir tão perfeitamente o que é ser amigo para mim. Da mesma forma que Jesus conseguiu, brilhante como sempre, resumir os dez mandamentos em dois (pequena aula de escola bíblica que você matou: 1- "Amar a Deus sobre todas as coisas" e, 2- "Amar ao próximo como assim mesmo"), eu resumo qualquer coisa que venha a falar agora sobre o que é ser amigo para mim nesta frase. Mas, também, poderia importar esse segundo mandamento como ótima síntese, aliás, o que é ser amigo além de você buscar amar o outro como a si mesmo? Pelo menos na minha óptica sim, e quem também se enquadra nisso, continue a leitura, caso contrario, os próximos parágrafos serão profundamente nauseantes.

Sabe ter o feeling de perceber quando o outro não tá legal? Sentir na voz ou nas palavras de um MSN que o outro precisa de ajuda mesmo quando ele não pede, sem ser com isso intrometido ou indiscreto?Saber q a frase "Sorrir quando esta feliz, mas, principalmente estar perto quando o outro chora?" é a diretriz de uma amizade?Tratar e ajudar o outro mesmo quando você não sabe abacates sobre o assunto ou pouco fazer, mas só estar ali dando um suporte moral, dando seu tempo...Tempo, que palavra interessante de ser dita agora, parece q veio dos céus (efeito de Constantine, ligue não...), é isso: É você, nesse mundo louco e corrido do século XXI, ter tempo para ouvir, dar atenção. Não falo ouvir a toa: às vezes, quase sempre, as amizades são mercenárias, só servem para falar, aí na sua maioria, fala-se muito, escuta-se muito pouco. Pior, é como se o outro tenha que ser seu psicólogo 24 horas: dar os ouvidos é uma coisa, se fazer de psicólogo é outra completa e perigosamente diferente. Ou mesmo simular uma amizade com outros interesses , como interesses acadêmicos. Talvez a dor de ter percebido que foi usado ou , pior , perceber que uma amizade que parecida existir , ser apenas fachada por um ou outro problema me faz hoje ser mais duro comigo mesmo e com os meus amigos.

É conversar sobre qualquer coisa sem ter que "pisar em ovos".Mas sobre qualquer coisa mesmo, até, inclusive, de coisas que você depois de ter dito se pergunta, "Eu disse isso, realmente?" É conversar sobre essas mesmas baboseiras altas horas da noite, mesmo com sono, mas só pelo fato de se sentir tão bem que não acredita q um sono possa ser melhor, e acordar as 6 da manha do mesmo dia. É pensar, seja numa musica, seja com a leitura de algum livro que você pensa "Ele ia gostar disso" ou "Isso o acrescentaria nos seus estudos"; É fazer as coisas desinteressadamente, tipo aquele que dá presente porque gosta e não porque quer ganhar presente no seu aniversario (alias desde já se preparem, o meu é no final de dezembro, e eu quero livros, bons livros, não precisa ser caro, apenas livros), é ver no outro o outro, obviamente, mas também se ver nele, e é por isso que "Sorrir quando se esta alegre e estar perto quando esta triste", pq chorar nem sempre é uma reação espontânea, estar perto para ajudar e cuidar, mesmo que essa proximidade seja pela net, isso sim deve ser natural.Ser leal.

Lendo o que escrevi agora, parece que isso pode parecer algo que esteja mais próximo de um relacionamento amoroso do que para uma amizade. Sei que vou escutar criticas e oposições ao que vou escrever agora, mas eu creio que a amizade, do sentido que eu penso funcionar, é um nível superior do amor, algo maior. Não é a toa que os casamentos que dão certo tem como base uma profunda amizade. A renúncia é maior, o amor e a tolerância devem também ser maior do que num relacionamento, uma vez que um amigo nem sempre é o "seu tipo", se é que você pode entender onde quero chegar.

Os tempos de formação de uma amizade também variam no tempo e no espaço: há amizades q se formam e solidificam em anos de vivência, bem lento-era daquele que você pensava que nunca seria seu amigo, mas com o passar dos anos você percebe q ele é interessante, que há uma química-, e outros que se fazem na velocidade de um ou dois meses, ou mesmo em uma ou duas semanas, e pelo mesmo motivo: a química. Química é o que não pode faltar, aquele clima q rola quando você conversa sobre História ate sobre como seu amigo pode conquistar aquele amor enrustido-mesmo que para isso, temos que voltar a adolescência e ler horóscopo (risos)...

As pessoas não me conhecem. Definitivamente não. Eu não sou uma pessoa fechada, pelo contrario, sou um livro aberto, mas só com aqueles que eu percebo confiança. Essa, entre outras que deixei aqui escapuli, termina minha análise sobre a amizade: sabe alguém que você pode contar seus sórdidos defeitos, sabendo que mesmo um dia, nos desencontros da vida, nos esbarrões das personalidades, nas brigas, você ter a consciência limpa e saber que nem ele vai espalhar aos sete ventos nem você terá vontade? Na verdade a briga é algo natural numa amizade, pois assim como não há o casamento sem briga, não há amizade sem criticas, briguinhas, pedidos de perdão, desculpas etc...Sabe o que é você perguntar sobre algo, e saber que se a pessoa criticou, mandou corrigir, ou mesmo que disse que tá ótimo, não é porque ele quer te fazer mal, pelo contrario, é porque ele não quer que os outros te façam mal. Isso é confiança, que é como um vaso de cristal: uma vez quebrado, nunca volta ao seu estado harmonioso original.

Isso é a amizade: o resto é coleguismo passageiro e fugaz.

Não sei se para você funciono assim, talvez eu seja um pouco intransigente, tradicional frente essas amizades pós-modernas, que trocam de amigos como quem troca de roupa, é só falar um não, ou falar aquilo que não agrada, que partem para uma outra "amizade". Chamar as pessoas de amigas ta tão banal e costumeiro como falar "Eu te amo".Ainda sou do tempo, saudoso por sinal, em que os amigos eram para sempre, que se encontravam, mesmo longe...Do tempo em que quando falava que a pessoa era amiga, é pq ela era amiga mesmo. E quando se falava "Eu te amo", que nem sempre este direcionado a segundas, terceiras ou ducentésimas intenções, independente de sexo, é porque se ama.

Talvez seja por isso que tenha tão poucos amigos.

Tudo bem, eles são os melhores amigos do mundo . Eu os realmente os amo com toda minha alma.Se eles tivessem a oportunidade de saber como eles são importantes, influentes e responsáveis na minha vida, se pudessem me retribuir com um sorriso sempre que me vissem, não faria mais questão de fazer amigos. Alias, não se faz amigos, eles são dádivas dos céus, admiro cada diferença que eles têm de mim, pq as igualdades é muito fácil admirar. Gostaria de ser mais presente, de estar mais ao lado, de ser mais amigo, mas é complicado quando a sociabilidade não faz parte da minha natureza. Por isso mesmo agradeço a cada um de vocês (tão poucos que já sabem quem são...) pela paciência e tolerância de cuidar de um bicho do mato, que vive de lua e que não gosta de telefone.

Mas eu ainda não chego a ser um eremita.

"Antes de cultivares novas amizades, não esqueças das antigas”.

sexta-feira, abril 22, 2005

Manias I

Esse assunto já era para ter sido colocado há tempos, ele é sempre o primeiro assunto que penso em escrever, mas a minha preguiça de me autodescrever – que já é uma grande mania, não é a toa que sou quase um bicho preguiça-é maior do que eu. Maior do que a minha preguiça, talvez seja a tendência global de nos afastarmos de certo “temas-tabus” como eu denomino (e para isso recomendo a leitura de um livreto muito bom “A solidão dos moribundos” de Norbert Elias), como a Morte, o Sexo - na visão particular de cada um e não as visões romantizadas, lindas, mas com a tendência a nos generalizar como pacote de salsichas-e, entre outras, as nossas queridas e amadas manias.

Para quem já acompanha este singelo blog sabe que a minha angustia – o meu bichinho de estimação-e a minha amada ansiedade são características quase que inatas a minha personalidade. Se um dia você me vir diante de uma situação sem um ponto de ansiedade e caso essa situação não tenha dado certo, e eu estiver sem uma ponta de autodepreciação e angústia, por favor, chame a ambulância, pois eu fui possuído pela Samara.
Mas hoje as manias são outras, complementares e mais, digamos, exóticas ou engraçadas: o meu “desconstrutivismo” de idéias e o meu querido e longo papo comigo mesmo.

Um exemplo para ilustrar: Certo dia ,creio que numa quinta feira, andando com a minha amada, estávamos a conversar sobre algumas, das várias que existem, dúvidas da Bíblia. Lembro-me do tema: Saul tinha ou não consultado Samuel por via da necromansia? E não entrando no mérito de especificar qual a teoria de cada um, eu tinha uma visão X, e a expus. Logo após ela disse a visão Y dela, embasou, disse bonitinho e tal. Lembro-me como se fosse ha 3 minutos atras eu virando para ela e dizendo: “tá bom, você está certa, mudei de idéia!”. E é assim que eu sempre faço. Isso é que eu denomino de minha “desconstrução” de idéias, e a minha tentativa de buscar o equilibrio das coisas. Mas antes de falar sobre ela, eu quero defendê-la, pois minhas manias são minhas e não quero perdê-las: algumas pessoas chamam isso de falta de personalidade, ou uma espécie de “maria-vai-com-as-outras” , etc. Mas eu acho essa arrogância de só porque você tem uma idéia sua, você não possa mudar, só pelo orgulho de não se sujeitar a uma idéia que não foi criada por você. Isso, ao meu ver, é ridiculo.

Não que eu não pense, muito pelo contrario, pois minha hiperatividade me obriga a pensar , e muito. Eu tenho uma idéia formada sobre tudo, mas ainda assim, prefiro ser aquela Metamorfose Ambulante de Seixas. Sou uma espécie de Liquidificador, onde está tudo misturado, todas as correntes de pensamento, todos os gostos musicais, todos os tipos de literatura, tudo que é programa de televisão, etc. Mas, no caso das idéias, nesse meu “Liquidificador” mental, não entra qualquer coisa,pois, voltando ao primeiro exemplo do parágrafo anterior, não foi pelo fato de ser minha namorada que mudou minha idéia, e sim pelo fato dela ter embasado perfeitamente a posição dela, a tal ponto de eu perceber que a minha visão era falha e que a dela , por mais que mais tarde ela tb possa , talvez, ser colacada em contradição, era bem melhor do que a minha. Ou seja, para entrar no Liquidificador, tem que ter algum conteúdo embasado, uma espécie de filtro, comum nos liquidificadores modernos.

Essas semanas, eu estava ,onde dou aula ,conversando sobre , para variar, história com os outros professores desta disciplina- é, qdo vc encontrar 2 ou mais estudantes de História, eles estão conversando em sua grande maioria sobre história- e uma delas resolveu fazer a pergunta que todos estudante de história gosta de fazer:”Você é o que? Marxista, Estruturalista? Weberiano? Pos-Modernista...”. Aí dois disseram que eram Marxistas, um disse que era Weberiano, e eu quieto...quieto, até que eles olharam para a minha cara quase que me intimando a responder. Foi o que eu fiz: “Eu sou tudo isso, e sou nada disso”. Para mim, a resposta perfeita, uma vez que posso pegar as melhores idéias e que melhor convir para mim e para meu trabalho,mas não necessariamente ser partidário ortodoxo de um destes , mas para eles, que assim como a maioria esmagadora de proto-historiadores que não conseguem entender nem piadas , tampouco metáforas, eu tinha perdido meu conceito que ganhara ao dar a aula.

Outro exemplo clássico, a tão famigerada política. Eu, particularmente me divirto com o ortodoxismo dos PSTUs da vida. Será que é tão dificil perceber que mudar um país continental com tantas desigualdades não se faz em 4 anos? Não, não defendo o Lula, nem o ataco, pq nada esperarava dele quando entrou, e sinceramente, ele tem falado cada besteira ultimamente, talvez por falta de uma boa acessoria, e quem o viu pedindo perdão aos Africanos pela Escravidão sabe do que estou falando.Mas ser radical , e infantil, em dizer que ele faz o jogo do Imperialismo (que definição mais anacrônica), é no mínimo, engraçado.Mas também o jogo do Olavo de Carvalho, q a cada dia com seu discurso de que vivemos uma ditadura comunista (?) vem arrebatando um número crescente de neo-conservadores, não faz parte das minhas convicções.

Mas onde esta o ponto principal do meu tema no que eu disse? Pois bem, mesmo o radicalismo de esquerda ou de direita não sendo algo que eu leve como convicção partidária, colocando severas críticas em seus discursos, eu consigo e apreendo algumas das suas idéias na visão mais “neutra” ou “de centro”. É algo tão natural , pois nada é tão certo a ponto de ser acreditar cegamente (leia o proximo parágrafo) ou tão errado a ponto de ser descartado completamente.

Falando em crença cega, vamos a mais um “tema-tabu” : a religião. A tendência hoje é dizer que este não é mais um tabu, pois a liberdade de expressão e de confissão religiosa esta aí para isso. Mas já parou para perceber uma certa ceguidão na maioria de seus discursos, não importa se é no culto, homilia, seja lá o que for, ou em blogs da vida, ou mesmo na musica ou nos testemunhos? Como se a verdade absoluta estivesse em suas mãos, cabendo a si prórpio a salvação , e a condenação para quem não estivesse dentro de sua “religião”? É algo polemico, tanto que sei que receberei criticas, como recebo, por este parágrafo.Tive que rir um dia desses quando um aluno me disse que o Papa foi para o Inferno pq era católico. A senhora me diz isso em sala de aula, com mais de 60 pessoas a escutando, tem noção? Talvez a minha risada irônica, junto do fato dela saber que sou protestante também , tenha sido mais revoltante para ela do que a minha resposta que se o céu só fosse dos “Evangélicos” (Isso e a denominação de “crente” eu não consigo entender...), ele ia ficar bastante vazio do que o planejado inicialmente...Mesmo sendo protestante, batista, quase que nascido em Igreja, não me cega a ponto de pensar que vivo na melhor das religiões, pois isso não há: Jesus nasceu Judeu, e morreu Judeu, a trasformação que ele propôs é no coração do homem. Se ele não condenou a mulher de samaria , pq eu condenaria o papa , um velhinho simpático, pela sua escolha? Quantas escolhas eu não faço que não são condenáveis? Eu tenho a minha crença, minha “religião” , não estou lá pela força da inércia ou da tradição, mas , só por causa disso eu tenho que me calar e deixar de estudar, para melhor me descobrir? É por isso que as pessoas são enganadas hoje como eram enganadas na Idade Média.Eu nem sempre tive essa idéia, visto que fui criado na Igreja,mas a vida, as leituras, e sobretudo a faculdade de História me deram uma visão mais racional (como Paulo pede em sua carta) da minha fé.Em outras palavras, mudei de idéia por outra que, para mim, era melhor.


É por essas e outras que eu digo que sou um bicho estranho...não é?


Continua...

segunda-feira, março 28, 2005

Lembranças de outra vida

Viva o Orkut! Podem dizer que ele é o prenúncio dos últimos tempos ou uma conspiração do google, mas que ele é melhor forma de reencontrar pessoas.

Depois de quatro anos de ausência e silêncio, encontrei antigos colegas de ensino médio -parece que o fiz há séculos-peguei o MSN de alguns e procuro o paradeiro de outros. Sabe a saudade é algo estranho, contudo extremamente prazeroso e viciante. Falo isso, pois estou entre a escrita deste pequeno texto - a princípio ele será pequeno, mas como vcs me conhecem, não esperem isso-conversando com uma colega, Fabiane, e só falamos dos nossos velhos tempos.

Fizemos uma Escola técnica em Produção de Tv e Vídeo, o que equivaleria a fazer um técnico em Jornalismo. Pois bem, hoje sei de pessoas que fazem faculdade de Jornalismo, bem como de colegas que fazem Engenharia, Física, Biomedicina (descobri hoje para que serve este treco!), Odontologia, Direito, História (Ainda estou por descobrir para que serve isso!). Isso é no mínimo curioso visto que a Escola não deu preparo para absolutamente nada no que se refere à base de estudo! Isso é um problema mais geral, já que só há base para a área técnica, e esquecem que nós podemos mudar de idéia quanto ao nosso futuro. Ou nas excelentes palavras desta colega: "Quem é que na nossa idade sabe o que vai fazer?".


Quando entramos nesta escola, pensamos estar um passo a frente no mundo civilizado e no mercado de trabalho: a 1ª escola audiovisual da América Latina; a menina dos Olhos do governo garotinho (hoje sei que isso não é lá essa coisa! Que saudades da época que garotinho era nome de menino, Rosinha de flor, Lula de animal aquático, e Severino de porteiro). Um andar só com equipamentos modernos, da antiga Manchete. Aliás, o nome da minha escola vem justamente por isto, em homenagem ao grande caloteiro Adolpho Bloch. Quando a ficha caiu, já estávamos no segundo ano e nada poderíamos fazer.


Mas como nós éramos felizes e não sabíamos: tínhamos uma turma excelente. Excelente em todos os sentidos, principalmente no que se refere à criatividade. Aqui cito o nome do famoso "Bonde do gel": Carlos, Guilherme, Rafael, João Henrique, Tiago, etc. Cada aventura que passamos, desde a tacarem bombinha na nossa sala a ter uma rebelião no presídio que tinha atrás da nossa escola no mesmo momento que tínhamos Educação Física. Rolou até um Big Brother Adolpho Bloch no banheiro dos rapazes para quem ficava a mercê dos bandidos. Éramos alimentados a base de uma rica e equilibrada dieta: biscoito de 4° nível, chamado Pisk ou Dunguinha e suquinho de uva.


Tem tanta coisa a serem ditas, afinal foram três curtos anos: as meninas da turma: Lívia, Amadinha sorriso, Abandona Casagrande, Patrícia Teixeira, Fabiane, a louca da Paola, Fernanda D'avila, Roberto Rego, Aline Materna, Tarciane, Manuela, Mônica Novarine, Luana, e as Gêmeas mais doidas que conheci: Patrícia e Paula Marcondes. E os professores: Luciano, Sergio, Salvatore ou Salvador (Se é um ruim ter física, imagina com um grego!), Simone, Soraia. Fora à professora de Química que era a cara de da Garrafinha (Quem já viu alguma vez o programa da Angélica sabe o que estou falando)...


O mais engraçado nesta história toda é perceber como a gente mudou neste tempo. E mais: como é saber como nós éramos vistos por um outro ângulo, ou seja, da pessoa que esta do outro lado do computador, sem ver nossos novos rostos, podendo então, sem vergonha contar nosso podres. Olha não é nada agradável, e nem sempre é a verdade realmente, porém a pessoa tem visões diferentes sobre alguém.


Falo isso, pois eu era realmente uma mala. Isso uma mala, mas para quem andava junto comigo. Eu andava de "Lua", tinha dias que era extremamente dócil, outros extremamente agressivo. Também foi uma fase muito complicada na minha vida, com a separação dos meus pais. Eles (as) foram uns anjos comigo, para me aturar neste momento.


Mas arrogante, prepotente, nerd, isso eu nunca fui, eu tenho certeza. Falo isso, pois sabe como é, nem sempre vc é amigo de todos. Alias tinha um grupo que me odiava, mas me odiava mesmo. O motivo? Pq me achavam nerd demais, pois acredito que pensavam que era arrogante pelo fato de sentar a frente ficar quieto (Nem sabem o quanto eu dormia nessas horas), que nos dias de prova eu sentava lá na frente e não dava cola para ninguém...


É por isso que o diálogo é a melhor arma e escudo que podemos ter: só com ele podemos realmente formar nossos conceitos, evitando nossos pré-conceitos. Se vcs acham estes que vos fala extremamente comunicativo e extrovertido, saiba que um dia não foi assim não. Uns homens extremamente fechados e tímidos, inseguros demais comigo mesmo, imagine para fazer amizades e sair a conversar a torto e a direito? Se soubessem que estava quieto, mas doido para participar das suas bagunças...Que ninguém perguntou se eu queria dar cola, que eu não pegava e para evitar a tentação sentava na frente, mas se quisessem colar eu estava ali, como algumas pessoas bem o sabem disto...Talvez eu tivesse conquistado mais amigos.


Todos falam: não importa se é na escola, ou no antigo prédio: eu mudei muito. Não sei se foi para melhor ou para pior, mas o fato é que mudei. Só eu que não percebo.
Sinto falta da turminha. Eu queria reunir todos e dar boas gargalhadas disso tudo. Só que não encontro o povo, nem pelo icq, nem pelo orkut (se bem que já encontrei muita gente por ali...), tampouco por sinal de fumaça...


Sabe, a gente passou tanto tempo junto, mas tanto que esquecemos que um dia iríamos nos separar, iríamos perder contato bem ou mal. Mas nunca pensei que ia sentir tantas saudades de uma época que pegava um 284 cheio para ir e outro para voltar. Passava mal a bessa, sempre um dos últimos a saltar...Tinha uns felizardos que soltavam no Norte Shopping ou ali em Benfica...Nossa tenho tanta coisa a escrever que poderia fazer um blog só com as recordações deste momento. Tanto é que esse parágrafo foi escrito posteriormente: eu escrevi ontem a noite este post e hj estou a modificar.

Espero encontrá-los...

Será que só eu sinto saudades?