domingo, junho 18, 2006

Subversão


Recebi esse recado pelo orkut não faz muito tempo:
"Nelton, desculpe ter fuxicado seu orkut, mas me amarro na sua criatividade e humor!!! Vc acredita que quando fico aborrecida, dou uma espiada nas suas fotos e acho tão bem humoradas que a trsiteza momentanea vai embora... Viu, vc é um gênio !"


Sinceramente, eu ganhei o ano. Não apenas porque encheu meu ego -não serei hipócrita a ponto de dizer que isso não aconteceu - mas, porque foi feito por alguém que não tenho tanto contato, de forma espontânea e natural, características tão raras num mundo tão artificial como o nosso. O mais engraçado dessa história é que justamente minhas fotos eu não acho tão engraçadas assim. Contudo, é sempre muito bom perceber como ainda vale a pena espalhar algumas sementes de humor e subversão mundo afora. Não me considero o melhor, o mais engraçado, o mais subversivo, sei meu espaço e é nele que quero habitar até me der na telha de mudar.


Ser subversivo é quando vc começa a falar e alguns param para prestar, enquanto outros começam a fazer caretas, sabendo que vc vai falar algumas coisas que incomodam. Para um subversivo, é tão bom escutar o famoso "Lá vem ele com as suas...", e melhor é quando ele percebe que há alguma lógica no que estou dizendo. E o contrário tb é fantástico, quando eu vejo que ele tem razão, afinal, "penso, logo, mudo de opinião". A primeira vez que escutei que era subversivo foi da minha fonoaudióloga, que era minha psicóloga também, quando ela me disse que eu andava na contramão do mundo. Achava que era assim por ser cristão,ledo engano. Para aumentar e complicar a minha subversão, eu estava na contramão do mundo e estava na contramão dos meus pares cristãos. Até hoje sou mal visto, ou como o subversivo, ou como o rebelde, ou aquele que não respeita hieraquias. Até entendo essas pessoas, mas, em minha defesa, que mal há em perguntar "por quê" ?



Tentar cada dia ser diferente, mas sendo eu mesmo, não inventando caricaturas; olhar, agir, sentir sempre sobre uma perspectiva diferente; amar o desconhecido e só sossegar quando este se tornar conhecido; aprender cada dia uma palavra nova no dicionário, descobri um novo cantor (a) para apreciar, mudar o tempero do arroz, rir da mesma piada sempre, sorrir, amar,e, principalmente, fazer rir, fazer pensar, fazer refletir, fazer mudar: não para o meu jeito, não condicionar essa transformação, mas mudar, sempre mudar. Enfim, transformar a monotonia, a rotina em algo, pelo menos, mais divertido. Mas ser subversivo não se resume a somente isso. Há tantas outras formas, atitudes, pensamentos, para ser subversivo. Mas, para mim, há 2 carcaterísticas para ser um subversivo:


1 - Se sentir incomodado com qualquer tipo de acomodação, passividade e afins. Se tem uma coisa que me irrita, essa coisa é conformismo. Pessoas que se anulam, esquecem seu poder de criatividade, de mudar, de revolucionar, e ficam paradas, agindo do mesmo jeito, pensando da mesma forma, tais como robôs sem coração, sem alma, sem espírito crítico. É claro que não são todos, mas uma razoavel parcela é assim. Em prol de um nome, reputação, de uma falsa e porca hipocrisia, esquecem de...

2- ...Ser vc mesmo. É vc gostar de si mesmo, se amar, sem que para isso vc precise escutar essas palavras de outrem. E gostar de si mesmo é saber seus defeitos, sem que para isso vc tenha que acabar sua auto-estima, e reconhecer suas virtudes, sem que para isso vc seja chamado de presunçoso. É ser verdadeiro o tempo todo, até com vc mesmo. Ou vc, meu amigo leitor, não tem segredos que nem vc quer lembrar? Pensamentos,atitudes que já fez, ou já pensou em fazer que vc nunca contou para ninguém e esqueceu em alguma parte de vc? Na busca de amigos verdadeiros, esquecemos que nós podemos ser nosso melhor amigo, sem que, para isso, nos isolemos. É reconhecer que somos contraditórios, que não temos coerência, que não somos uma máquina, que a falha é essencial em nossas vidas. Eu gostaria de entender certas pessoas que vivem em função do que as pessoas dizem. É claro, que em certos graus, todos somos influenciados pela opinião dos outros, mas viver pautado no que as pessoas acham, é se policiar, colocar uma camisa de força na sua liberdade. Eu não tenho vergonha de ser eu mesmo: falo alto, gesticulo como um legítimo italiano, rio de tudo e de todos, minha risada, como diz minha amiga Priscila, é escandalosa sim. Falo rápido, falo besteira, soltos meus palavrões. E serei assim até me eu me cansar: não tenho melindres em mudar. É ser Cristão e escutar Marcelo D2, Angra, Earth, Wind & Fire, Bach, Bethoven, Ja Rule, Tom Jobim, Mariah Carey, Stevie Wonder, Dj Patife, Seu Jorge, sem se achar sem personalidade, muito pelo contrário.



O mais interessante é quando esquece dos outros, certas características que vc gosta são reparadas sem que vc force isso. Concordo que todos nós usamos máscaras, até quando achamos que não temos nenhuma, mas tem pessoas vivem com uma máscara para agradar, para ser bonzinho, para se enturmar, para ser popular. E, desculpe a expressão, dá ânsia de vômito: até uma flor de plástico é menos artificial que essas pessoas. Como professor, como homem, naturalmente tem pessoas que não gostam de mim mesmo, de graça, sem procurar saber quem sou eu, e não vejo problema nisso não: o meu mundo seria tão chato se as pessoas só gostassem de mim, me achassem bacana, popular. Mas, como qualquer ser normal, gosto de elogios. São raros, por isso saboreados de forma toda especial. Um elogio que eu amo, e que é o mais comum é o famoso engraçado: as pessoas pensam que eu sou um palhaço extrovertido, enquanto eu me acho um tímido introvertido com alguns lampejos de ironia. Mas tenho um carinho tão grande quando falo alguma coisa, espontânea, simples, inadvertidamente, e faço alguém rir, que posso dizer, sem dúvida, que vale a pena ser vc mesmo. Ainda...


Subversivos: não somos vilões, também não somos semideuses. Somos como vc, seu pai, o padeiro da esquina, o jornaleiro, o vendedor de bala: normais. Temos anseios, medos (muito medo, aliás...), interesses, não somos benfeitores desse mundo. Somos, como no velho clichê, diferentes.


Espero que isso tenha, pelo menos, te incomodado.


Nelton, sinônimo subversão.