sexta-feira, maio 27, 2005

Quietude

Silencio...


Oh, a mais bela das melodias, com seu acorde único e tão subjetivo. O que seria do som se não fosse o silêncio? Este é o artista: dentro daquele amontoado de complexos sonoros, ele molda e o transformam na mais bela harmonia. Pena que o este é dado um papel secundário, quando não é completamente desdenhado.


Vivemos num mundo tão barulhento, tão poluído,que o silencio é como um grande refletor aos nossos olhos: incômodo. Estranhamos quando o outro esta silencioso, achamos logo que não está bem. Engraçado, a quietude sempre leva esse rótulo de tristeza ou apatia, talvez seja pelo fato das pessoas não saberem escutar o silêncio.Talvez não.


Eu gosto do silêncio. Traz-me paz, calma, serenidade. Eleva meu espírito a um estado indescritível.Também gosto do som: alegra minha alma, me desperta, alinda. Mas deste dois, eu prefiro ao primeiro. Uma das primeiras lições que tive na escola de música, e que todos devem saber, é que saber respeitar a pausa. Pausa é igual ao silencio, instante de profunda concentração, contudo, instante de relaxamento frente à tensão das notas que foram e que serão tocadas.


Sou um homem que fala muito. E põe muito nisso. Falo alto (recebo diversas reclamações por isso), gesticulo mais ainda. Sou desastrado, hiperativo, falo pelos cotovelos, às vezes falo o que não devo.Preciso ainda ser mais diplomático, ter menos papas na língua, amadurecer o vocabulário.Mas sei me calar. E faço isso com tanta naturalidade, com tanta espontaneidade, que aos outros parece anormal. É como se eles nunca esperassem isso de mim.


O silencio é meu amigo, um dos melhores, inclusive. Conviver com ele não é nada fácil: sua sinceridade chega a ser inconveniente e constrangedora. Não consigo mentir nem enganá-lo, tampouco omitir algum fato ou detalhe a ele. Parece que ele tudo sabe, me escuta como se já tivesse escutado aquela história outras vezes, mas mesmo assim está ali, do meu lado, sem parecer cansado. A cada dia tento aprender a saber tirar mais proveito dessa união.Tem dias, e ultimamente bem recorrentes, que a minha vontade é ficar quietinho, de preferência quase que imperceptível, só escutando os outros, sem julgar, sem criticar, só escutar, envoltos em meus pensamentos, conversando com o meu silêncio.


Mas este não é sinônimo de solidão, tampouco, sinônimo de parceria. Não é nem um, nem o outro, é apenas silêncio. Também não se resume a falta de som. Cada um tem que achar seu silêncio, aquele que foi feito para você. Isso demanda tempo, paciência, interesse. Como tudo tem seus prós, assim como seus contras.

Meu silencio é bem barulhento: numa casa onde você não é o único, nem o “dono da bola”, pouco se pode fazer a não ser encontrar outros “silêncios”. O meu tem como nome Jazz: adoro todos, ou quase todos estilos de musica (acho engraçado o forro de duplo sentido mas ainda não suporto o sertanejo), escuto-os quase que 24 horas, todavia, quando estou escutando jazz, eu não estou nesse plano, na verdade não estou em plano algum. Estou dentro da harmonia, navegando sobre as notas, procurando as pausas, buscando o inexplicável, uma endorfina viciante. As vezes, um violão do lado (um dia terei um piano de calda), alguns acordes, mas, no fim, a busca é a mesma: o silencio.

Pensar em nada especificamente, mas ficar submerso a tudo que vem a mente. Resolver algumas duvidas, criar outras tantas, deixar algumas pela metade. Não ter compromisso com nada, e amadurecer com isso. Pois, no nosso idealismo juvenil, cremos que podemos mudar o rumo da onda. Nessas horas, vale a máxima do surf: surfe, apenas
Surfe.


Equilíbrio...


É como esse texto aqui, que não tem lógica, nem fim. São apenas pensamentos, traduções de conversas com meu silêncio


Devaneios...

domingo, maio 08, 2005

Sobre amigos e colegas

"Vc é um eremita? Você é muito solitário, gafanhoto!”.

Com essas palavras, ditas não faz muito tempo, um amigo meu alertou-me sobre uma virtude minha e sobre um defeito meu: a minha severidade nas escolhas das amizades e minha solidão consciente, respectivamente.

Mas a minha vontade de escrever sobre amizades (o título do texto é um plagio confesso de "Sobre meninos e lobos") foi depois que algo tão agradável aconteceu, mas tão agradável e prazeroso que tinha até esquecido que existia: a formação de uma amizade.Foi tão honroso que mereceu a menção no blog, não somente menção, mas um post inteiro, intrometendo-se na análise sobre minhas manias.

Deixo bem claros aos quatros ventos: sofro de uma solidão espontânea. É algo tão interiorizado, tão consciente que se tornou algo intrínseco, parte da minha natureza. Não sou de viver isolado do mundo, mesmo porque, para quem me conhece, falo pelos cotovelos - escuto ainda comentários de "vc esta bem? Não, nada em especial, é pq vc esta muito quieto!” - contudo eu gosto de um silencio, de apenas o som da natureza, tudo bem que aqui na metrópole a natureza se resume a buzinas,batidas, funk (quer bolete na veia!), trens, tiros..., Mas eu gosto estar sozinho, de pensar sozinho, de falar sozinho (já prometi um tópico só sobre isso, mas falta vontade...), ou seja, de SER sozinho.Não que isso seja algo permanente, pelo contrário, sonho com minha família tradicional bastante movimentada, mas sabe tem horas que quero só eu e um livro, eu e um computador, eu e uma musica ou mesmo eu e um violão (terapia para todas as horas).

Justamente por isso, tenho uma espécie de dificuldade de relacionamento. Para quem já entrou no meu orkut vê num dos depoimentos uma frase que achei fantástica sobre mim: "...ou o amam ou o odeiam. ". Não há meio termo para quem me conhece, ou será meu amigo ou prefere não ser nada meu, apenas um companheiro de trabalho, ou de faculdade. Para mim então, a coisa é mais intransigente, não há meio termo para mim: ou é meu amigo ou não é. E hoje em dia, cada vez mais desumanizada, é tão difícil encontrar alguém que tenha prazer ou, no mínimo, paciência para querer ser um amigo, sobretudo, um amigo meu. A essas pessoas, eu gostaria, se pudesse, de dar uma coroa, um premio, um feudo ou etc.

Digo: tenho n colegas, dos mais variados tipos e gostos, de todos os tamanhos e idades, do ateu, ao mais fanático e fervoroso protestante. Mas amigos, amigos no sentido estrito da palavra, são poucos e se esgotam nos números das minhas mãos.Até menos, se fosse mais exigente.

Mas o que é amizade para Nelton Araújo? Algo tão simples, tão banal que desacostumamos a fazer: se importar com o outro.Nenhuma outra frase poderia resumir tão perfeitamente o que é ser amigo para mim. Da mesma forma que Jesus conseguiu, brilhante como sempre, resumir os dez mandamentos em dois (pequena aula de escola bíblica que você matou: 1- "Amar a Deus sobre todas as coisas" e, 2- "Amar ao próximo como assim mesmo"), eu resumo qualquer coisa que venha a falar agora sobre o que é ser amigo para mim nesta frase. Mas, também, poderia importar esse segundo mandamento como ótima síntese, aliás, o que é ser amigo além de você buscar amar o outro como a si mesmo? Pelo menos na minha óptica sim, e quem também se enquadra nisso, continue a leitura, caso contrario, os próximos parágrafos serão profundamente nauseantes.

Sabe ter o feeling de perceber quando o outro não tá legal? Sentir na voz ou nas palavras de um MSN que o outro precisa de ajuda mesmo quando ele não pede, sem ser com isso intrometido ou indiscreto?Saber q a frase "Sorrir quando esta feliz, mas, principalmente estar perto quando o outro chora?" é a diretriz de uma amizade?Tratar e ajudar o outro mesmo quando você não sabe abacates sobre o assunto ou pouco fazer, mas só estar ali dando um suporte moral, dando seu tempo...Tempo, que palavra interessante de ser dita agora, parece q veio dos céus (efeito de Constantine, ligue não...), é isso: É você, nesse mundo louco e corrido do século XXI, ter tempo para ouvir, dar atenção. Não falo ouvir a toa: às vezes, quase sempre, as amizades são mercenárias, só servem para falar, aí na sua maioria, fala-se muito, escuta-se muito pouco. Pior, é como se o outro tenha que ser seu psicólogo 24 horas: dar os ouvidos é uma coisa, se fazer de psicólogo é outra completa e perigosamente diferente. Ou mesmo simular uma amizade com outros interesses , como interesses acadêmicos. Talvez a dor de ter percebido que foi usado ou , pior , perceber que uma amizade que parecida existir , ser apenas fachada por um ou outro problema me faz hoje ser mais duro comigo mesmo e com os meus amigos.

É conversar sobre qualquer coisa sem ter que "pisar em ovos".Mas sobre qualquer coisa mesmo, até, inclusive, de coisas que você depois de ter dito se pergunta, "Eu disse isso, realmente?" É conversar sobre essas mesmas baboseiras altas horas da noite, mesmo com sono, mas só pelo fato de se sentir tão bem que não acredita q um sono possa ser melhor, e acordar as 6 da manha do mesmo dia. É pensar, seja numa musica, seja com a leitura de algum livro que você pensa "Ele ia gostar disso" ou "Isso o acrescentaria nos seus estudos"; É fazer as coisas desinteressadamente, tipo aquele que dá presente porque gosta e não porque quer ganhar presente no seu aniversario (alias desde já se preparem, o meu é no final de dezembro, e eu quero livros, bons livros, não precisa ser caro, apenas livros), é ver no outro o outro, obviamente, mas também se ver nele, e é por isso que "Sorrir quando se esta alegre e estar perto quando esta triste", pq chorar nem sempre é uma reação espontânea, estar perto para ajudar e cuidar, mesmo que essa proximidade seja pela net, isso sim deve ser natural.Ser leal.

Lendo o que escrevi agora, parece que isso pode parecer algo que esteja mais próximo de um relacionamento amoroso do que para uma amizade. Sei que vou escutar criticas e oposições ao que vou escrever agora, mas eu creio que a amizade, do sentido que eu penso funcionar, é um nível superior do amor, algo maior. Não é a toa que os casamentos que dão certo tem como base uma profunda amizade. A renúncia é maior, o amor e a tolerância devem também ser maior do que num relacionamento, uma vez que um amigo nem sempre é o "seu tipo", se é que você pode entender onde quero chegar.

Os tempos de formação de uma amizade também variam no tempo e no espaço: há amizades q se formam e solidificam em anos de vivência, bem lento-era daquele que você pensava que nunca seria seu amigo, mas com o passar dos anos você percebe q ele é interessante, que há uma química-, e outros que se fazem na velocidade de um ou dois meses, ou mesmo em uma ou duas semanas, e pelo mesmo motivo: a química. Química é o que não pode faltar, aquele clima q rola quando você conversa sobre História ate sobre como seu amigo pode conquistar aquele amor enrustido-mesmo que para isso, temos que voltar a adolescência e ler horóscopo (risos)...

As pessoas não me conhecem. Definitivamente não. Eu não sou uma pessoa fechada, pelo contrario, sou um livro aberto, mas só com aqueles que eu percebo confiança. Essa, entre outras que deixei aqui escapuli, termina minha análise sobre a amizade: sabe alguém que você pode contar seus sórdidos defeitos, sabendo que mesmo um dia, nos desencontros da vida, nos esbarrões das personalidades, nas brigas, você ter a consciência limpa e saber que nem ele vai espalhar aos sete ventos nem você terá vontade? Na verdade a briga é algo natural numa amizade, pois assim como não há o casamento sem briga, não há amizade sem criticas, briguinhas, pedidos de perdão, desculpas etc...Sabe o que é você perguntar sobre algo, e saber que se a pessoa criticou, mandou corrigir, ou mesmo que disse que tá ótimo, não é porque ele quer te fazer mal, pelo contrario, é porque ele não quer que os outros te façam mal. Isso é confiança, que é como um vaso de cristal: uma vez quebrado, nunca volta ao seu estado harmonioso original.

Isso é a amizade: o resto é coleguismo passageiro e fugaz.

Não sei se para você funciono assim, talvez eu seja um pouco intransigente, tradicional frente essas amizades pós-modernas, que trocam de amigos como quem troca de roupa, é só falar um não, ou falar aquilo que não agrada, que partem para uma outra "amizade". Chamar as pessoas de amigas ta tão banal e costumeiro como falar "Eu te amo".Ainda sou do tempo, saudoso por sinal, em que os amigos eram para sempre, que se encontravam, mesmo longe...Do tempo em que quando falava que a pessoa era amiga, é pq ela era amiga mesmo. E quando se falava "Eu te amo", que nem sempre este direcionado a segundas, terceiras ou ducentésimas intenções, independente de sexo, é porque se ama.

Talvez seja por isso que tenha tão poucos amigos.

Tudo bem, eles são os melhores amigos do mundo . Eu os realmente os amo com toda minha alma.Se eles tivessem a oportunidade de saber como eles são importantes, influentes e responsáveis na minha vida, se pudessem me retribuir com um sorriso sempre que me vissem, não faria mais questão de fazer amigos. Alias, não se faz amigos, eles são dádivas dos céus, admiro cada diferença que eles têm de mim, pq as igualdades é muito fácil admirar. Gostaria de ser mais presente, de estar mais ao lado, de ser mais amigo, mas é complicado quando a sociabilidade não faz parte da minha natureza. Por isso mesmo agradeço a cada um de vocês (tão poucos que já sabem quem são...) pela paciência e tolerância de cuidar de um bicho do mato, que vive de lua e que não gosta de telefone.

Mas eu ainda não chego a ser um eremita.

"Antes de cultivares novas amizades, não esqueças das antigas”.