"Vc é um eremita? Você é muito solitário, gafanhoto!”.
Com essas palavras, ditas não faz muito tempo, um amigo meu alertou-me sobre uma virtude minha e sobre um defeito meu: a minha severidade nas escolhas das amizades e minha solidão consciente, respectivamente.
Mas a minha vontade de escrever sobre amizades (o título do texto é um plagio confesso de "Sobre meninos e lobos") foi depois que algo tão agradável aconteceu, mas tão agradável e prazeroso que tinha até esquecido que existia: a formação de uma amizade.Foi tão honroso que mereceu a menção no blog, não somente menção, mas um post inteiro, intrometendo-se na análise sobre minhas manias.
Deixo bem claros aos quatros ventos: sofro de uma solidão espontânea. É algo tão interiorizado, tão consciente que se tornou algo intrínseco, parte da minha natureza. Não sou de viver isolado do mundo, mesmo porque, para quem me conhece, falo pelos cotovelos - escuto ainda comentários de "vc esta bem? Não, nada em especial, é pq vc esta muito quieto!” - contudo eu gosto de um silencio, de apenas o som da natureza, tudo bem que aqui na metrópole a natureza se resume a buzinas,batidas, funk (quer bolete na veia!), trens, tiros..., Mas eu gosto estar sozinho, de pensar sozinho, de falar sozinho (já prometi um tópico só sobre isso, mas falta vontade...), ou seja, de SER sozinho.Não que isso seja algo permanente, pelo contrário, sonho com minha família tradicional bastante movimentada, mas sabe tem horas que quero só eu e um livro, eu e um computador, eu e uma musica ou mesmo eu e um violão (terapia para todas as horas).
Justamente por isso, tenho uma espécie de dificuldade de relacionamento. Para quem já entrou no meu orkut vê num dos depoimentos uma frase que achei fantástica sobre mim: "...ou o amam ou o odeiam. ". Não há meio termo para quem me conhece, ou será meu amigo ou prefere não ser nada meu, apenas um companheiro de trabalho, ou de faculdade. Para mim então, a coisa é mais intransigente, não há meio termo para mim: ou é meu amigo ou não é. E hoje em dia, cada vez mais desumanizada, é tão difícil encontrar alguém que tenha prazer ou, no mínimo, paciência para querer ser um amigo, sobretudo, um amigo meu. A essas pessoas, eu gostaria, se pudesse, de dar uma coroa, um premio, um feudo ou etc.
Digo: tenho n colegas, dos mais variados tipos e gostos, de todos os tamanhos e idades, do ateu, ao mais fanático e fervoroso protestante. Mas amigos, amigos no sentido estrito da palavra, são poucos e se esgotam nos números das minhas mãos.Até menos, se fosse mais exigente.
Mas o que é amizade para Nelton Araújo? Algo tão simples, tão banal que desacostumamos a fazer: se importar com o outro.Nenhuma outra frase poderia resumir tão perfeitamente o que é ser amigo para mim. Da mesma forma que Jesus conseguiu, brilhante como sempre, resumir os dez mandamentos em dois (pequena aula de escola bíblica que você matou: 1- "Amar a Deus sobre todas as coisas" e, 2- "Amar ao próximo como assim mesmo"), eu resumo qualquer coisa que venha a falar agora sobre o que é ser amigo para mim nesta frase. Mas, também, poderia importar esse segundo mandamento como ótima síntese, aliás, o que é ser amigo além de você buscar amar o outro como a si mesmo? Pelo menos na minha óptica sim, e quem também se enquadra nisso, continue a leitura, caso contrario, os próximos parágrafos serão profundamente nauseantes.
Sabe ter o feeling de perceber quando o outro não tá legal? Sentir na voz ou nas palavras de um MSN que o outro precisa de ajuda mesmo quando ele não pede, sem ser com isso intrometido ou indiscreto?Saber q a frase "Sorrir quando esta feliz, mas, principalmente estar perto quando o outro chora?" é a diretriz de uma amizade?Tratar e ajudar o outro mesmo quando você não sabe abacates sobre o assunto ou pouco fazer, mas só estar ali dando um suporte moral, dando seu tempo...Tempo, que palavra interessante de ser dita agora, parece q veio dos céus (efeito de Constantine, ligue não...), é isso: É você, nesse mundo louco e corrido do século XXI, ter tempo para ouvir, dar atenção. Não falo ouvir a toa: às vezes, quase sempre, as amizades são mercenárias, só servem para falar, aí na sua maioria, fala-se muito, escuta-se muito pouco. Pior, é como se o outro tenha que ser seu psicólogo 24 horas: dar os ouvidos é uma coisa, se fazer de psicólogo é outra completa e perigosamente diferente. Ou mesmo simular uma amizade com outros interesses , como interesses acadêmicos. Talvez a dor de ter percebido que foi usado ou , pior , perceber que uma amizade que parecida existir , ser apenas fachada por um ou outro problema me faz hoje ser mais duro comigo mesmo e com os meus amigos.
É conversar sobre qualquer coisa sem ter que "pisar em ovos".Mas sobre qualquer coisa mesmo, até, inclusive, de coisas que você depois de ter dito se pergunta, "Eu disse isso, realmente?" É conversar sobre essas mesmas baboseiras altas horas da noite, mesmo com sono, mas só pelo fato de se sentir tão bem que não acredita q um sono possa ser melhor, e acordar as 6 da manha do mesmo dia. É pensar, seja numa musica, seja com a leitura de algum livro que você pensa "Ele ia gostar disso" ou "Isso o acrescentaria nos seus estudos"; É fazer as coisas desinteressadamente, tipo aquele que dá presente porque gosta e não porque quer ganhar presente no seu aniversario (alias desde já se preparem, o meu é no final de dezembro, e eu quero livros, bons livros, não precisa ser caro, apenas livros), é ver no outro o outro, obviamente, mas também se ver nele, e é por isso que "Sorrir quando se esta alegre e estar perto quando esta triste", pq chorar nem sempre é uma reação espontânea, estar perto para ajudar e cuidar, mesmo que essa proximidade seja pela net, isso sim deve ser natural.Ser leal.
Lendo o que escrevi agora, parece que isso pode parecer algo que esteja mais próximo de um relacionamento amoroso do que para uma amizade. Sei que vou escutar criticas e oposições ao que vou escrever agora, mas eu creio que a amizade, do sentido que eu penso funcionar, é um nível superior do amor, algo maior. Não é a toa que os casamentos que dão certo tem como base uma profunda amizade. A renúncia é maior, o amor e a tolerância devem também ser maior do que num relacionamento, uma vez que um amigo nem sempre é o "seu tipo", se é que você pode entender onde quero chegar.
Os tempos de formação de uma amizade também variam no tempo e no espaço: há amizades q se formam e solidificam em anos de vivência, bem lento-era daquele que você pensava que nunca seria seu amigo, mas com o passar dos anos você percebe q ele é interessante, que há uma química-, e outros que se fazem na velocidade de um ou dois meses, ou mesmo em uma ou duas semanas, e pelo mesmo motivo: a química. Química é o que não pode faltar, aquele clima q rola quando você conversa sobre História ate sobre como seu amigo pode conquistar aquele amor enrustido-mesmo que para isso, temos que voltar a adolescência e ler horóscopo (risos)...
As pessoas não me conhecem. Definitivamente não. Eu não sou uma pessoa fechada, pelo contrario, sou um livro aberto, mas só com aqueles que eu percebo confiança. Essa, entre outras que deixei aqui escapuli, termina minha análise sobre a amizade: sabe alguém que você pode contar seus sórdidos defeitos, sabendo que mesmo um dia, nos desencontros da vida, nos esbarrões das personalidades, nas brigas, você ter a consciência limpa e saber que nem ele vai espalhar aos sete ventos nem você terá vontade? Na verdade a briga é algo natural numa amizade, pois assim como não há o casamento sem briga, não há amizade sem criticas, briguinhas, pedidos de perdão, desculpas etc...Sabe o que é você perguntar sobre algo, e saber que se a pessoa criticou, mandou corrigir, ou mesmo que disse que tá ótimo, não é porque ele quer te fazer mal, pelo contrario, é porque ele não quer que os outros te façam mal. Isso é confiança, que é como um vaso de cristal: uma vez quebrado, nunca volta ao seu estado harmonioso original.
Isso é a amizade: o resto é coleguismo passageiro e fugaz.
Não sei se para você funciono assim, talvez eu seja um pouco intransigente, tradicional frente essas amizades pós-modernas, que trocam de amigos como quem troca de roupa, é só falar um não, ou falar aquilo que não agrada, que partem para uma outra "amizade". Chamar as pessoas de amigas ta tão banal e costumeiro como falar "Eu te amo".Ainda sou do tempo, saudoso por sinal, em que os amigos eram para sempre, que se encontravam, mesmo longe...Do tempo em que quando falava que a pessoa era amiga, é pq ela era amiga mesmo. E quando se falava "Eu te amo", que nem sempre este direcionado a segundas, terceiras ou ducentésimas intenções, independente de sexo, é porque se ama.
Talvez seja por isso que tenha tão poucos amigos.
Tudo bem, eles são os melhores amigos do mundo . Eu os realmente os amo com toda minha alma.Se eles tivessem a oportunidade de saber como eles são importantes, influentes e responsáveis na minha vida, se pudessem me retribuir com um sorriso sempre que me vissem, não faria mais questão de fazer amigos. Alias, não se faz amigos, eles são dádivas dos céus, admiro cada diferença que eles têm de mim, pq as igualdades é muito fácil admirar. Gostaria de ser mais presente, de estar mais ao lado, de ser mais amigo, mas é complicado quando a sociabilidade não faz parte da minha natureza. Por isso mesmo agradeço a cada um de vocês (tão poucos que já sabem quem são...) pela paciência e tolerância de cuidar de um bicho do mato, que vive de lua e que não gosta de telefone.
Mas eu ainda não chego a ser um eremita.
"Antes de cultivares novas amizades, não esqueças das antigas”.