quarta-feira, agosto 17, 2005

Ri é o melhor remédio


"Me sinto preparado para assumir a presidência da República"


(Severino Cavalcanti)





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Musica do dia: "Don't Worry, be Happy" (Bob McFerrin)

quinta-feira, agosto 11, 2005

Momentos Poéticos III


A Matemática, quando bem empregada, pode ser uma fonte de inspiração maravilhosa. Como historiador preciso admitir isso: a matemática é fascinante.


Mais fascinante é essa canção do mestre dos mestres, Tom Jobim.






Aula de Matemática


Pra que dividir sem raciocinar


Na vida é sempre bom multiplicar


E por A mais B


Eu quero demonstrar


Que gosto imensamente de você



Por uma fração infinitesimal,


Você criou um caso de cálculo integral


E para resolver este problema


Eu tenho um teorema banal


Quando dois meios se encontram desaparece a fração


E se achamos a unidade


Está resolvida a questão


Prá finalizar, vamos recordar


Que menos por menos dá mais amor


Se vão as paralelas


Ao infinito se encontrar


Por que demoram tanto os corações a se integrar?


Se infinitamente, incomensuravelmente,


Eu estou perdidamente apaixonado por você.







Musica do Post: Aula de Matemática - Tom Jobim (Óbvio, não?)

quinta-feira, agosto 04, 2005

Apologia à Indignação


Frase da semana: “Eu fico fascinada, parece que estou assistindo ao Roque Santeiro” (Lucia Guimarães, acerca da CPI do sei-lá-qual-nome-tem-aquilo)


No último dia 2 de agosto, o Brasil parou. E dessa vez não foi por causa de alguma final esportiva. Pelo contrário, o país se aglomerou em bares, restaurantes ou mesmo em lojas de eletrodomésticos para assistir a uma acareação entre o ex-ministro da Casa Civil, o agora deputado José Dirceu ,e deputado Roberto Jefferson. Entre as mútuas acusações e defesas, o óbvio se sabe: o que queríamos é que não houvesse chegado a tal ponto. Pior só o fato de concluirmos que falta a sociedade, sobretudo a nova geração, consciência política, consciência de não se conformar com o rumo que a “democracia” brasileira esta seguindo. Observamos também, cada dia mais “público e notório” (tomando uma expressão do Dirceu emprestado), o desleixo e a descredibilidade que a disciplina História tem tomado as mentes de nossa sociedade. Não são todos que têm essa falta de zelo. Não que todos aqueles que não são dessa ‘nova’ geração tivessem a consciência da importância de tal disciplina.Nada de generalização! Mas trabalhemos com o fato: poucos são aqueles que se interessam pela história e enchem de importância com a mesmo afinco que fazem com as Matemáticas, por exemplo (nada contra, são tão necessárias quanto a História). Mesmo dentro do núcleo estudantil que se importa com esta disciplina, ainda temos que dividir entre o grupo que se importa pelo fato de saber da necessidade de ter um pensamento crítico, e aqueles que só se interessam pelo pragmatismo do vestibular.


Sim, o pragmatismo e o conformismo são as tônicas das buscas de nossos jovens: Economizar e poupar energia sempre, esse é o lema. Dentro de todas as modas, de todas as tecnologias, procura-se o conforto, o fácil, o agradável, o prazeroso, o rápido e o certo.E pagando para isso um alto preço: o da liberdade de pensamento. Ficamos presos àquilo que os outros pensam, o que a mídia nos impõe a pensar, e por extensão, ao que certos grupos dominantes querem que pensemos e que não pensemos. Nos indignamos apenas por aquilo que a media quer que nos indignemos, nos alegramos apenas por aquilo que eles querem que nos alegremos. Criticamos ou elogiamos aqueles que alguma personalidade (detentora de uma arma, por vezes mal empregada: a formação de opinião) outrora criticou e/ou elogiou. Os mensalões da vida republicana existem há tempos, e agora a opinião pública se revolta? Antes tarde do que nunca, diriam alguns, e eu concordo, mas já parou para pensar que esse tsunami foi formado pela imprensa? Que antes do interesses democráticos, há o interesse privado pelo furo, pelas manchetes, pela audiência.Não que eu não goste de conforto e prazer, muito pelo contrário, mas aspiro sempre a algo maior: a minha liberdade. Temos um quadro favorável, numa visão macroscópica, em relação aos jovens da época da ditadura, que não viam nos jornais nada que o governo pudesse considerar como negativo para o país(explicitamente, é claro, afinal, criatividade sempre foi o forte do brasileiro): desde o óbvio balanço político até uma epidemia de meningite, e ainda sim vemos pessoas que quando vêem algo relativo a política na televisão, logo mudam de canal, ou para algum programa de variedades ou esportivo, quando não se trancam mentalmente nos Orkut ou menssenger da vida e esquecem que há vida exterior. Estamos formando jovens claustrofóbicos,que, ao contrário do que se imaginam, não pensam cada vez mais rápido, e sim, ao pensar apenas as idéias-chaves , o comum, o óbvio, não pensam, pelo menos criticamente.


E o estudo da História, que em tese deveria romper com esse quadro de comodidade se torna a matéria do “Pra que se estuda isso?” “Para que estudar o passado?”. Em parte isso se explica pela falta de crítica que temos, no entanto , o fato de termos professores que não ajudam em nadaa criarmos esse hábito de pensar é tão ou mais importante. Não estamos pedindo revolucionários, marxistas, anarquistas, comunistas, ou qualquer “istas”. Estamos pedindo graduandos pensantes, críticos, que saibam que a faculdade de História não serve só para ter um emprego ou , em menor escala, ter um status quo de intelectual.. Que tenham a visão de que são tão formadores de opinião quanto os intelectuais “produzidos” pela imprensa, e que saibam que,se não for feito alguma coisa já com esses jovens, chegará o dia no qual seremos meros reprodutores, sem influência alguma. O estudo da História é o espaço que abrimos para o processo do pensamento crítico, de começar a questionar, duvidar, se inconformar. E isso é doloroso e lento. E muito dos nossos graduandos de hoje não esta preparado para essa honra. E muita gente não está interessada que tenhamos tal objetivo enquanto educadores.



Enfim, longe de querer isso, é melhor começarmos dar valor ao que temos hoje, a nossa liberdade de pensamento, a de não sermos obrigados a nos conformarmos com essa imposição de cultura, que dá a falsa idéia de que somos seres pensantes, antes que a gente tenha que buscar, nas ruas, de novo, essa graça. E que possamos entender, dentre as várias e eruditas (algumas bastantes sacais) definições, de que a história nada mais é do que “a ponte que liga o seu mundo ao mundo”.



Afinal, ninguém é uma ilha.


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Musica deste post: “Strangers in the night”Frank Sinatra

(Convenhamos:antes essa do que Nervos de Aço interpretada por Roberto Jefferson, não?)



Ps do autor: esse post era até o primeiro parágrafo um enunciado de uma prova para uma turma de pré-vestibular. Quando dei por mim estava na segunda página de divagações, logo eu não cometeria o crime a minha inspiração, tão apagada nos últimos dias, de parar.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Sociedade dos Poetas Mortos


"A gente não faz amigos, reconhece-os."(Vinicius de Moraes)


Tem certas coisas que me fazem sentir muito bem: algumas bem extravagantes, como tocar contrabaixo no escuro, comer sorvete no inverno antártico, e outras tão comuns, como um beijo apaixonado, um abraço sincero, ou mesmo perceber que plantei bons frutos. São gestos simples, discretos, mas que me deixam profundamente feliz, por vezes emocionado.


Quando decidi, ou melhor, quando percebi que meu dom era estar numa sala de aula, ensinando e aprendendo com meus alunos, sabia que não seria fácil. Primeiro, porque eu já tinha noção do desprezo moral e econômico que os professores no Brasil sofrem. Mas isso nunca foi um problema para mim, nunca quis ser rico. Problema mesmo eram minhas idéias um tanto quanto subversivas a respeito do "ser" professor.


Por que autoridade? Por que porta-voz da verdade incontestável? Por que apenas professor, fechando as portas para novas amizades? Estas e outras perguntas me incomodavam desde minha tenra adolescência, principalmente quando uma professora de Química que no seu primeiro dia de aula, usando uma calça Gang, incomodada com os óbvios sussurros dos garotos com os níveis de testosterona acima da média saudável, manda o recado: "não vim para ser amiguinha de vocês!". Pensei que isso fosse coisa de alguém que tem um marido que dormiu de calça jeans no dia anterior, mas quando entrei na faculdade e vi como alguns colegas pensam, percebi que era mais grave do que imaginava. A mística da verdade inabalável, achar que só pelo fato de ter uma faculdade de uma matéria específica sabe mais do que qualquer aluno. Santa Ignorância: no pouco tempo, menos de 3 anos, que leciono, tive o prazer de conhecer pessoas que com sua experiência de vida, ou mesmo com seus lazeres conhecem mais sobre um determinado tema do que muito professor. A esses alunos tenho uma eterna dívida, porque, mesmo sem eles perceberem, eu aprendi muito com eles. Isso remete a questão da autoridade: tudo bem, eu entendo que é necessário, algumas vezes, ser mais rígido em algumas posições, mas "autoridade" não é um termo um tanto quanto autoritário? Eu prefiro me considerar uma espécie de irmão mais velho: não tem a autoridade do pai, contudo os alunos, irmãos mais novos, lhe dão ouvidos, por mais que discordem. Afinal, o aluno não precisa concordar com tudo que você diz, principalmente em História, onde você dá ferramentas para ele pensar.


Mas nada me incomoda tanto quanto a questão da impessoalidade do professor. Alguns chamam isso de ética profissional, eu chamo isso de elitismo idiota. Eu, antes de ser professor, sou humano, carne, possuo desejos, tenho afinidades, interesses, contradições, trocando em miúdos, não sou uma ilha: porque cargas d'água eu tenho que me afastar de pessoas que podem ter os mesmos interesses que eu, que podem ser amizades em potencial? A Idade, maturidade? Ora, Vinicius de Moraes estava certíssimo quando disse que "A gente não faz amigos, reconhece-os.". Eu tenho amizades com alunos, e me orgulho disso, eu sei não misturar as estações, sei aonde vão os limites da amizade e do profissionalismo, e eles também sabem disso. Faço questão de colocar meu MSN, meu orkut, meu blog no quadro tanto no pré-vestibular, quanto na 5ª serie onde sou estagiário. A melhor coisa que tem é estar no meio dos alunos no intervalo: você ri se diverte, de si e dos outros, sabe das últimas. A sala das professoras é tão triste e melancólica perto deste.



Quando tive essas idéias, um pouco, confesso, exóticas de como queria ser na sala de aula, era apenas um mero professor de uma Escolinha Bíblica Infantil, o tio da galera dos Juniores, entre 9 a 12 anos. Trabalhava assim com eles, sendo amigo deles, sendo acessível, mas nunca pensei que eu pudesse causar impacto na vida deles. As minhas idéias amadureceram, mas na sua essência continuaram as mesmas. Estes alunos cresceram, perdi um pouco de contato, nem imaginava que eles me reconhecessem na rua...


...quando numa bela noite de sábado, voltando à igreja onde fui professor , vejo minha melhor aluna da época, Ana Carolina Santos, sentada,conversando, como uma natural adolescente. Lembro-me dela pequena, com seus 10, 12 anos. Imaginei que ela fosse me cumprimentar, nada demais, principalmente na soberba juvenil, onde tudo é "Mico". Mas para a minha emoção e surpresa, eu vejo uma bela moça descendo, chorando, trêmula, me abraçando tão forte e tão carregada de alegria, que não tive outra escolha do que me emocionar junto com ela. Neste instante de silencio na metrópole, consigo relembrar perfeitamente daquele momento, onde ela só conseguia dizer: "Por que você sumiu? Você faz falta!". Desfruto desse momento, tendo a noção de um sentimento agradável, pois a sensação de nós nos abraçando ainda é viva e latente em meu corpo. Mais do que uma sensação boa, ela foi a concretização de que minhas idéias, que não tenho a intenção de que seja um manual pedagógico para ninguém, estão no caminho certo, que consigo ver bons frutos no que estou plantando. Não sou o dono da verdade, nem sou um gênio, meu único desejo é ver professores um pouco mais humanos, mais sensíveis, e não alguém que, narcíscamente, se auto-intitula "O professor”.



São de sensações assim que preciso na minha vida.


Só falta o sorvete.


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Musica do Mês: Diana Krall - The Took Of Love