quarta-feira, junho 04, 2014

Divagações sobre dança

Geralmente, vivo num mundo particular com meus fones de ouvidos. Mas nunca em ponto de ônibus: dali gosto de escutar conversas alheias, sempre aprendo ou me divirto com alguma coisa.

Houve uma vez que escutei a seguinte frase de uma estudante de dança (presumo ser, acho, não sei): "um bom dançarino não é aquele que te faz querer dançar, mas aquele que te move, mexe, sensibiliza ou mesmo te choca naqueles passos".

Vibrei. Enfim, encontrava palavras para algo que pensava há anos. E voltei a 2007. Época que ainda lia Men's Health (sim, eu tenho um passado obscuro e negro, mas confesso que foi graças a ela que comecei a correr). E lá indicava um DVD imperdível de um tal de Justin Timberlake. Dei risada: conhecia aquele fedelho da época do N'sync e confesso que não via muito potencial naquele moleque não. Mas, benefício da dúvida, lá vamos abrir o Emule e baixar "Future Sex/Lovesounds".

Foram duas horas hipnotizados, assustadoramente.

 Para um TDAH que não consegue ficar 10' sentado num lugar sem se coçar, é de arrepiar. E não, não era pelo Justin. Sim, braço a torcer: aquele moleque tinha um potencial absurdo, tomou vergonha naquela careta, virou homem e ficou foda. Mas o que me hipnotizou eram os dançarinos. Toda aquela desenvoltura, o controle total de cada membro do corpo, a simetria dos gestos entre si, o espaço para o improviso (sim, eu adoro o improviso). Sobretudo pelo claro contraste pelo aquilo que eu não tinha. Poucas coisas eu acredito em dom, o dançar é um desses.

Mas em especial, uma dançarina me chamou a atenção. Não era a melhor nos passos, não era a mais performática, não era mais bonita. Mas era aquela que justamente mais me sensibilizava. Dezenas de dançarinos, eu me pegava prestando atenção somente nela.

O tempo passou, Justin resolveu virar um ator meia b...digo, razoável. E quando voltou ao projeto 20/20, trouxe de volta uma trupe mais enxuta de bailarinos. E quem estava lá? Sim, ela! Melhor! Mais solta! Mais vibrante! Mais apaixonante! Dessa vez não resisti: fui atrás para descobri quem era ela. E descobri que ela é melhor do que eu imaginava. O nome dela é Dana Wilson, e o video promocional dela está aí abaixo (isso é, se você ainda ta lendo isso aqui, né?)

Mas por que essa dissertação toda acerca de uma dançarina, Neltinho? Na verdade não tem razão específica, eu quis, o espaço é meu. Mas, parando para pensar bem, um pensador contemporâneo Ken Robinson em uma conferencia do TED sobre educação falou que nosso sistema educacional é feito do pescoço para cima. Queremos (mesmo que veladamente) que nossos filhos virem médicos, engenheiros, arquitetos, advogados, funcionários públicos e, se nada der certo, professores. E quantos grandes bailarinos, atores, pintores, artistas plásticos,poetas, músicos, cantores, atletas olímpicos não estão agora escondidos debaixo de médicos, advogados, arquitetos e engenheiros medíocres? Falo por mim mesmo. Com certeza hoje não teria tomado o caminho que tomei.

Então, agradeço a Dana por tornar os shows do JT mais fabulosos. Mas, também agradeço a mãe da Dana de permitir e encorajar dela ter sido uma dançarina. Assim como agradeço a cada pai e mãe aqui que incentiva seu filho a fazer um curso que não seja um "pré-sei-lá-o-que".

Arte: a gente precisa. Mais que imaginamos, menos que consumimos.