quarta-feira, novembro 24, 2004

Uma autobiografia não autorizada...

Vejam esta definição:
Apatia (Do grego apátheia e do latim apatia) Sf: 1. Estado de impassiblidade e de indiferença; 2. Falta de energia, indolência.
Parece interessante, não?
Não, principalmente quando você tem que conviver com esta diariamente...
Um dos meus defeitos, além da já discutida ansiedade , é a minha apatia. Na verdade , nem sei se ela é minha apatia, ou apenas algo incômodo que tenho, e que por mais que tente, não consigo tirá-la de forma completa. A apatia seria o primeiro passo de uma depressão, o ponto de partido de uma angústia que te toma por inteiro e te corrói. Mas discordo de uma definição de que está no querido Aurélio, de onde retiro todas estas conclusões sobre o meu mascote:
3. Filos. No cepticismo e no estoicismo, estado em que a alma se torna insensivel à dor e a qualquer sofrimento.
Não, definitivamente esta não é uma característica do meu bichinho de estimação: tão certo quanto amanhã fará manhã, eu sou capaz de captar e atrair qualquer dor para mim. Sou tão sensível as palavras , que não suporto nem mesmo aos meus pensamentos.
É interessante perguntar a mim mesmo ( e esta pergunta veio agora à minha mente): porque estou fazendo isto comigo? Porque estou revelando o lado mais sombrio desta pessoa aparentemente amável que vos fala? Uma resposta agora de imediato seria invenção minha, querendo atenuar a dúvida que me aparece neste instante. Mas uma coisa eu sei: o porque da minha apatia deste mês, ou desta semana, ou mesmo destes dias. A resposta para esta autobiografia de mim,feita por mim, e que não foi autorizada por mim, apareçano final deste desabafo, deste instante breve de catarse, ou mesmo daqui a alguns anos, quando nem mais este blog eu me lembrar que existe. Aliás é até um conselho: se estiver pensando que nestas palavras , você verá o Nelton Araújo otimista, vendo flores e cantando "What a wonderfull world" dos ultimos tópicos, se enganará. A não ser que seja forte suficiente para não deixar-se influenciar por estas duras palavras que virão, espere até semana que vem onde estará um tópico puro e limpinho esperando para alegrar-te.
Pode ser deboche,mas sabe porque chamo a apatia de mascote e/ou bichinho de estimação? Porque desde que me conheço como ser pensante , eu tenho isto, mesmo que de início não pensasse que fosse sintomas de apatia, mas sim de preguça infant-juvenil. É, como já disse, um prelúdio à depressão,mas de forma bem disfarçada: imagine uma nuvem negra sobre sua cabeça, tipo as que aparecem no gibi do cascão ou da mônica, te empurrando além do chão, te deixando pensativo por demais, de certo modo cobrando-se mais do que o necessário , pessimista a ponto de achar de que você , ao estar neste estado interessante, vai perder as pessoas que mais te amam por uma besteira idiota. É uma falta de energia, que chega ao cume de acordar, tomar banho, tomar o desjejum (serei sincero, escrevi desjejum para ficar bonitinho, para mim é café-da-manhã mesmo) e voltar a dormir, e não ir a aula, pois está numa fadiga mental, que me faz lembrar que estive em uma guerra, e não percebi. Não chega a ser uma depressão, pois tenho força de vontade de levantar e sair,mas estou muito preocupado em dizer que não estou depressivo, me defendo tanto que parece que estou e não quero assumir: se estou não estou, o leitor agora tem a prerrogativa de decidir.Eu sou a pessoa mais otimista do mundo,mas quando pego no colo meu cachorrinho de pelúcia, me acho fraco e estúpido, por não dizer um utópico fanático por ser este otimista. É detestar a música que eu mais gosto nesta vida, a "We are the champions" do Queen, por achar que isto foi coisa feita por gente cheia de da grana, que morreu por via estúpida e que poderia hoje estar gozando de uma vida que anseio.E que mesmo assim, coloca na sua playlist , e enquanto escreve estas sentimentalidades de boteco do portuga, vire e mexe fica escutando-a.
Minha apatia é como menstruação: vem de forma organizada. Ainda não fiz uma cartelinha para avisar aos meus queridos que me cercam que em tal dia, ou mês, não me procurem , porque estarei triste, abatido, quieto e inquieto ao mesmo tempo, vulnerável, mudando de idéia como se muda de roupa (se bem que isto já faço normalmente). Mas não quero fazer isto, pois acho que não deve fazê-los se adaptarem à minha rotina, e sim eu tenho que começar a mudar meus hábitos infanto-juvenis, por mais coerência que eles tenham. Seria uma espécie de anticoncepcional mental, para impedir a ebulição dos meus pensamentos. Eles são a causa do meu estado interessante. Poderia aqui falar de toda minha decepção que tive nestes últimos dias, onde fui traído e apunhalado nas costas, e ao tentar mudar a situação, só mexi mais no escremento, ou seja, só fedeu mais.Mas não, agora lendo percebo que seria dar ibope demais a quem não merece, e por mais que tenha doído, eles não são a causa para estar abraçado ao meu grande pelúcia.
E aí está outro defeito que aponto na minha autobiografia: eu sou bonzinho demais, passível demais, sentimentalista demais, paciente demais, querido com os outros demais. Eu sou daqueles que ficam , sem nenhum tipo de ressentimento, até o amanhecer fazendo o trabalho do seu inimigo, que não pediu nada, mas que você viu que ele está em necessidade, e seu ímpeto impede que você vire as costas. Daí decorre outro defeito (Tô parecendo aquela Fiat 147): por causa disto eu explodo nas pessoas que menos tem haver com isto, que na verdade , eram as genuínas merecedoras do meu respeito. Fico tão à flor da pele, que ao ser mencionado que estou sendo contrariado, minha expressão muda. Não é à toa que chamo minha namorada de Santa, mesmo aos protesto dela: ela fica ao meu lado sempre, mesmo nas minhas crises, me ajuda e apoia, quando qualquer outra normalmente, me jogaria na lata do lixo. Isto é apenas 0,0001% dos motivos que eu a amo mais do que a mim, e pararei por agora, pois ela já deve estar vermelha.
Deixa eu culpar quem realmente é digno de ser culpado: meus pensamentos. Como um bom hiperativo, e de acordo com algumas leituras, meu cérebro tem uma menor atividade na parte direita do meu lobo frontal(qualquer definição errônea aqui é já pedida desculpas, matei, e hoje mataria também,todas as aulas de biologia), o que leva justamente a eu perder um enorme grau meu senso inibidor de pensamentos. Seria uma espécie de censor do DIP mental, que acabei de matar, em poucas palavras , a consequencia é: "Tá tudo liberado (...) Ele está descontrolado" . E à medida que isto me ajuda a ser um humano um pouco mais criativo, meus pensamentos negativos são ressaltados: "Porque voce ainda não conseguiu nada na sua área, vc não é tão inteligente?" ou "Pelo visto, este lance de ser professor vai cair por água abaixo, se conforma em serqualquer coisa que te dê dinheiro, e fique feliz", são alguns pequenos pensamentos que tenho. Nunca imaginei que pudesse dizer isto de mim,mas é como se fosse uma segunda personalidade,o meu lado negro da moeda.
Mudar? Sim , tenho planos bem concretos, contudo é uma grande ferida que causará em mim. Não queria seguir a corrente da sociedade moderna, mas a minha tendência é um endurecimento humano, uma certa solidificação do meu coração mole. É necessário eu parar de levar tudo à ferro e à fogo, de ser menos sentimentalóide e parar de querer abraçar o mundo com minhas pernas e braços. Preciso urgentemente olhar mais para mim e para quem realmente me ama. Mas se isto for um processo instantâneo, eu sei que é como dieta da lua ou do abacaxi: consegue um efeito efêmero contudo voltarei num estágio ainda mais avançado. Nunca fui bom com dietas, e quem me conhece pessoalmente sabe porque eu falo isto (Né Rodrigo Farias?),mas quero começar este processo , que não era o que queria,mas é a panacéia para eu parar de sofrer .

Uma das resposta para a indagação de porque escrevo aqui, acabei de achar, escutando Seixas: "tente outra vez". Posso não ter condições de ter uma psicóloga para cuidar de mim,mas porque procurar uma , se escrevendo libero tudo aquilo que não consigo me expressar? Esta sim , escrever aqui, é minha verdadeira análise: aqui , eu estou liberado a escrever tudo que penso,por mais que alguém leia, e na verdade não estou nem aí.Eu quero me libertar deste saco de pano entitualda apatia.

Ou seja, estou querendo doar meu bichinho de estimação. Alguém conhece uma boa pet shop?

sexta-feira, novembro 19, 2004

Receita pra lavar palavra suja

Bem, eu nunca fiz isto,mesmo porque acho que criar um blog para colocar as idéias dos outros, não é criar um blog e sim fazer marketing para a tal pessoa. Mas ontem e a vi no Jô: Viviane Mosé, uma filósofa, psicanalista e poeta, que ama Nieztchie (assim como quem vos fala). É da nova geração, contudo com uma linguagem acessível, sem exageros de erudição , que é corrente nestes meios.E como ainda vou demorar a escrever, achei por bem homenagea-la, mesmo que seja col0cando no meu blog.

O Poema aqui colocado,é bem interessante, nos faz pensar sobre o peso , as vezes exagerado e petrificado, que colocamos sobre as palavras que nos rodeiam.

Receita pra lavar palavra suja:
Mergulhar a palavra suja em água sanitária.
Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol
adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida.
Existem outras, e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar
e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão.
Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas
soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura,
que é capaz de esvaziar o vigor da língua.
O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho
em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer
é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente
sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo neste caso é misturar palavras que mancham
no contato umas com as outras. Culpa, por exemplo,
a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.
Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo,
sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode,
o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras
sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva,
produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras
é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie
pela expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite,
não a seu lado mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne,
prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais
perceber a presença dela,
então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

sexta-feira, novembro 12, 2004

O que o você quer ser quando crescer?

Pergunta trivial esta, não? Todo ser humano, racional, quando criança já escutou esta pergunta do avô, da Tia da Escola, ou mesmo do pai, quando este não faz a afirmação: "Você vai ser isto!". Passamos todo a nossa a adolescência maquinando o que nós queríamos ser quando crescer, às vezes até esquecendo de agir como criança ou como adolescente, com a agenda cheia de cursos de inglês, de artes, de informática...

Introdução trivial, para um assunto capital.

Há algum tempo atrás, quando eu não tive tempo de escrever, li em um artigo escrito que, segundo o MEC, mais de 50% dos alunos das Universidades fazem aquilo que "Acham" que vão conseguir uma melhor colocação profissional, em vez de fazer aquilo que eles fazem por gosto, por convicção. No "Globo repórter" de algum mês atrás (sou um Historiador que é péssimo com datas, graças a Deus) a proporção é de um para 3 universitários. No Brasil república (aquele de Cabocla), a oposição era fraca, pois, ela não tinha motivação ideológica, e sim de interesses, trocando em miúdos, era só esta entrar no poder, que ela fazia as mesmas coisas da sua "opositora".

A analogia aqui é só a questão da motivação: as pessoas não acreditam mais nos seus potenciais, acreditam apenas na força do mercado, ou seja, faz uma faculdade daquilo que "dá dinheiro" e pronto, será feliz e empregada para todo sempre.

Será?

Tudo bem, eu reconheço que nada está fácil nestes dias: a cada dia vemos, num contexto não só nacional, mas também global, que há uma subtração no mercado de trabalho. São raríssimos os países em que a taxa de desemprego é pequena, penso que até em Marte há fila de emprego. E tão importante quanto, é o discurso que escutamos na nossa infância, ou adolescência, pelos pais, ou tios, ou mesmo por qualquer um que a gente considerasse importante, e que,mesmo sublinarmente marcou nosso pensamento: "Olha, estude, porque lá fora não está fácil para ninguém" "Professor? Ah garoto vai estudar para ser médico, que isto é que dá dinheiro!" "Nelton, vai emagrecer, e faz a prova para ser militar, seja igual ao seu tio: olha ele passou e agora tá bem de vida" "Gari? Ah faz me rir?”.

Eu nunca quis ser gari ou mesmo trocador (e os acho fundamental para nossa vida, ou vc já pensou o que seria de nós sem um gari?), mas quando disse, no segundo ano do ensino médio, que ia ser Professor, meus pais caíram para trás. Até hoje, não há muito interesse do meu pai em saber o que estou aprendendo, na verdade ele queria que eu fosse militar.E eu poderia ser, se eu quisesse, e sem pretensão, se eu parasse e estudasse. Mas não há na minha cachola uma motivação de fazer aquilo que eu não ame.

Algumas pessoas em fase de escolha da sua profissão me perguntaram sobre o que fazer, a resposta, em uma palavra: TESÃO.

Tesão naquilo que faz, este é o segredo. Faça aquilo que você tem paixão, amor, que você possa virar para qualquer um e dizer sem medo, ou receio do que eles possam dizer: "EU SOU ISTO!". Faço História a 3 anos, estou quase me formando, e tirando a minha 1° paixão, meu amor,minha noiva, todos disseram , sem exceção:(Leia em tom de descaso e deboche) "História? Poxa, vc tinha tanto potencial naquilo, foi fazer logo História?". Nunca liguei,não me abalo, a História corre no meu sangue, a busca pela imparcialidade e pela verdade me faz ser uma pessoa esquisita: sou um desconstrutor de mim mesmo, eu sou aquela "Metamorfose Ambulante" , minhas opiniões são fortes e convincentes,não obstante se eu escutar uma outra opinião , que eu julgue melhor argumentada, eu mudo (e o orgulho para o beleléu, a mesma opinião na hora) e digo: "é você está certa...". Mas vamos voltar ao tópico, a minha Desconstrução, é um longo e outro papo.

Estou na pior fase de um Universitário: a busca do primeiro emprego naquela área que escolheu. Mais precisamente estou a 3 anos procurando alguma coisa na área, e ainda não achei. É um ótimo pretexto para eu largar tudo e fazer algo que dê dinheiro, não? Não, eu tenho consciência de que é uma fase, e sei que depois do primeiro emprego, eu tenho capacidade para ascender, para me sustentar com a História. Vocês podem estar se perguntando: "Nossa, que auto confiança é esta, que chega parecer prepotência?" Eu Respondo: a minha ideologia de vida, a minha motivação , o tesão pela sala de aula, pelas pessoas, que pai, ou pessoa nenhuma vai me tirar,pois é mais do que um profissão, é uma missão divina. Eu sei que este discurso religioso não cai bem para um Historiador, mas não há como negar a mão de Deus no que faço. E aí, outra coisa que devemos nos lembrar: sua profissão é mais do que um mero trabalho de 40 horas semanais, é algo talvez religioso, é uma missão que transcende qualquer escritório, qualquer sala de aula, qualquer campo de futebol, qualquer palco, e qualquer outra coisa que você queira falar agora. Logo, a minha autoconfiança é fruto da certeza de que eu faço o que amo.

Um fator importante a ser lembrado, e que o Globo e as outras emissoras não dizem é que todos os grandes profissionais fazem aquilo que amam. Senna, desde criança quis ser piloto; Pelé sempre quis ser jogador, os grandes advogados, advogam por paixão, e por isto conseguem até absolver criminosos, não pela sua inocência, mas pela arte da persuasão. Empresários reconhecidos começaram de baixo, às vezes de Office boy, e pelo amor e principalmente pela motivação ideológica que hoje nós não temos –pois somos produtos feitos e em nós não há poder de reagir ao sistema (Escute "Admirável chip novo" da pity para ter uma noção do que estou falando)- são o que são hoje.

Posso te dar um conselho? Aquele que faz o que gosta, o que dá o "tesão" é bom naquilo que faz, porque não faz por obrigação. E o mercado não está fechado, apenas seletivo: ele só quer os melhores.

A sorte está lançada,a dica foi dada, e depende agora só de você escolher qual caminho a ser tomado.

É, nem eu, nem você esperávamos que a perguntasse fosse tão complexa.

E agora,você tem certeza do "O que você quer ser quando crescer?”.