sábado, julho 30, 2011

(Des)Encontros


Desilusão.
Nenhuma outra palavra, frase, ou mesmo enciclopédia poderia designar tão bem o sentimento dele naquele dia. Tivera cultivado com esmero cada sementinha de esperança para o que acreditava ter encontrado: o amor de sua vida. Era como se os astros tivessem combinado entre si e com Deus para promover o que considerava o mais sublime dos eventos: entre uma multidão, um olhar, um sorriso, uma conexão rara e espontânea e lá estava mais uma vítima da flecha do arruaceiro cupido. Desde então, tudo parecia ser questão de tempo: conversas até as horas mortas, admiração mútua, cumplicidade, confidências, textos inspirados. Na sua cabeça, planos, viagens, passeios, cartas e poemas de amor. Mas nada de pressa: ele já tinha aprendido que pro amor, (e, convenhamos, para a maioria das coisas), se precipitar não levaria a nada. 
Que tivesse se precipitado. Melhor um não educado que vê-la indo embora na garupa daquela moto. Vagava pela rua agora um ser que era só solidão, breu total, oco. O coração e a alma ele se esquecera de pedir de volta a ela... 
...Passaram os anos, e eis nosso amigo refeito. O coração e a alma sabiam o caminho de casa, e assim ele foi se reconstruindo. Mais maduro, mais sério, mais equilibrado, inclusive mais cético. Não tinha desistido do amor, mas sabia que precisava fechar algumas feridas para seguir em frente. A maior delas era mostrar a aquela linda moça destruidora de corações o quanto ela tinha perdido. Não queria fazer mal, apenas mostrar que no unidunitê da vida dela, ela tinha escolhido a pior opção. 
Treinou para um eventual encontro, sabia exatamente o que e como dizer, tinha escolhido a dedo as melhores palavras da língua portuguesa. Preparou-se para qualquer imprevisto, já era mestre no improviso e seu sacarsmo tinha se elevado a níveis que ele mesmo se surpreendia. Compensava o fato de não ser o mais belo dos homens com charme, simpatia e até certo porte atlético: tinha se tornado maratonista, e dos bons. Tudo esquematizado, só faltava à ocasião certa. Aprendera a ser paciente: uma hora viria, ah se viria... Sorria imaginando a cena do dia em que ele daria o troco.
            Ele só não contava com uma única coisa: as oportunidades nós criamos, voluntária ou involuntariamente. Se ele soubesse disso, não teria ido para aquelas bandas. Se soubesse, não tinha subido naquele ônibus cheio. Que esperasse outro, não tinha pressa. Mas os astros e, desconfio, até Deus, sorriam largamente com a paralisia momentânea dele ao esbarrar com seu algoz. Com cada músculo de seu corpo enrijecido, nada podia fazer apenas sorrir. E não era um sorriso qualquer era daqueles reveladores, que dispensam palavras. Sua cabeça, a mil por hora, pensava em tudo e ao mesmo tempo em nada. Tentava, sem nenhum sucesso, retomar o controle da máquina, esta que tinha sido, por tanto tempo, construída, preparada, otimizada, para um momento desses. Tudo em vão. Ao olhar nos olhos dela, a luz que refletia era tão intensa que não conseguiu sustentar por muito tempo. Para ser sincero, nem por um segundo.  Por dentro, revoltado consigo mesmo, assistia a um corpo descontrolado apenas dizer um breve “Oi!” “To bem e você?” e, depois de três pontos em um silencio cruciante, “tchau, beijos”. O efeito hipnotizante-retardado foi-se assim que ela desapareceu de sua vista, e ele percebeu o quão ingênuo ele fora. Determinadas coisas somente o tempo, se tiver boa vontade, pode nos vingar. Lançou a cabeça para trás do banco enquanto o banco partia e foi rindo, zombando de si mesmo pelo resto da viagem...
            Enquanto isso, naquele ponto, aquela moça cerrava os olhos, com raiva de si mesmo, perguntando o que deu de errado para ela não conseguir falar tudo que tinha ensaiado por anos para ele...