terça-feira, julho 07, 2009

Upgrade U

Há uma frase sobre a amizade, daquelas que você encontra em qualquer site, que sempre me encantou: “Quando fizeres novos amigos, não se esqueça dos antigos”. Entre a multidão de citações do gênero, esta sempre me agradou mais, já que, particularmente, ela representa pra mim o verdadeiro espírito de uma pessoa “amiga”: alguém aberta a novas relações e, portanto, disposta ao risco do desapontamento e da ilusão. Mas, por outro lado, aquela citação traz em si o espírito de que a renovação, o crescimento como pessoa, como amigo, implica em também conservar aquilo que é substancial para você mesmo. No caso da frase, os amigos antigos. Mas não é raro (não mesmo!) encontrarmos pessoas que desatam os “firmes” nós da amizade com uma impressionante velocidade. Transformam aquilo que eu sempre considerei o maior dos sentimentos, até maior que o próprio amor Eros, em um objeto mercadológico, trocando e se desfazendo a partir do momento que aquilo não dá mais benefícios imediatos.

A amizade, assim como a vida, tem se tornado cada vez mais líquida, mas nem sempre de forma tão consciente e maquiavélica como parece. Na avalanche de informações, relações, pessoas, imagens, vamos simplesmente agindo, ou melhor, reagindo a esses impulsos e muitas das vezes não damos conta do que estamos fazendo – ou deixando de fazer. Consciente ou inconscientemente (não quero entrar nessa discussão) não paramos um instante para pensar, refletir sobre nossas ações, nossas escolhas ou mesmo nossas omissões... Enfim, somos como um computador sobrecarregado, eternamente ligado e sem atualização.

Observemos por um instante todos nossos atos, gestos, palavras, pessoas ao nosso redor: será que não estamos nos apegando restritamente as “novidades”, independente se supérfluas ou não, e esquecendo do que nos é essencial, independente do que é novo ou antigo? Não estaríamos nós nos afastando daquilo que é indispensável e inerente ao nosso ser em prol da preocupação exclusiva do novo, que é, por definição, também o incerto? Não é uma questão de dizer que o “velho” constitui o fundamental, tampouco que o “novo” é a matriz do superficial, mesmo porque não é bem por aí o rumo da minha prosa. É bem verdade que estamos apegados demais a quinquilharias desnecessárias e talvez nem tanto atentos ao edificante do novo. É por isso que advogo uma atualização, um “upgrade”.

Atualizar-se não é somente adquirir novos hábitos e idéias, ou novas roupas, tampouco ampliar sua rede social real (nada de Orkut ou Twitter), mas também ver revirar seu baú de emoções, sentimentos, amigos, músicas, etc., e separar aquilo que te é essencial daquilo que não é. Jogar certas coisas fora é um bom exercício de desapego, pois alivia demais a sua bagagem, porém, deve-se ter imenso cuidado, pois aquilo não voltará jamais, e, às vezes, não estamos preparados para isso. Quanto àquilo que não jogamos fora, não basta apenas deixá-lo, inerte e empoeirado: devemos retirar todo o pó, passar um bom lustre e, por vezes, fazer pequenos ou grandes reparos. E, sobretudo, colocá-lo ao lado daquela novidade de última geração que você ainda está babando. Isso requer tempo, disposição, e até doses de sacrifício, porém se não fizermos, a tendência é de se perder aquilo irremediavelmente e aquilo se tornar apenas mais uma, das inúmeras, recordações boas. E é senso comum afirmar que sempre sentimos falta daquilo que perdemos. Criamos, institivamente, zonas de conforto em nossas relações, onde nos aconchegamos e acreditamos que nada precisa ser modificado. E enquanto isso, lá elas estão enchendo-se de poeira, que de tão grossas, já encobrem e embaçam a beleza daquela relação.

Já que está parado aqui lendo este texto, tire mais dois minutinhos para um auto-exame: há quanto tempo você não liga para seus amigos de infância/adolescência para saber como está? Há quanto tempo você não sai com eles para simplesmente ficar de papo, tomando uma casquinha no banquinho do shopping (ou qualquer coisa do gênero)? Lembra-se dos seus sonhos e ideais de quando jovem? Ainda permanecem de pé ou você simplesmente se esqueceu deles? Faz quanto tempo que você não põe pra tocar aquele CD que marcou uma fase boa de sua vida? Porque você não faz uma playlist de músicas que te lembram alguém ou algo importante, ao invés de só escutar as Top 10 Hits de Julho de 2009? Há quanto tempo você não dá aquele abraço nos seus pais? Você pode ter – e eu tenho – dezenas de divergências com eles, mas são, antes de tudo, meus pais. Já tentou retirar a poeira dos seus álbuns de fotografia? Que tal convidar seus amigos pra te ajudar nessa empreitada e relembrarem o porquê vocês são amigos? Faz muito tempo que você não se declara pra sua namorada(o)? Não manda um cartão? Não recita uma poesia ou mesmo a chama de meu anjinho?

São coisas simples, fáceis, algumas precisam de Mastercard, mas maioria não...Acho que não custa tentar.