quinta-feira, dezembro 03, 2015

Nudez



Existem vários tipos de nudez, ficar pelado é apenas uma. As vezes nem é, dependendo da relação que a pessoa tem em expor seus corpos ao público. Ficar desnudo é ficar exposto de forma fragilizada, vulnerável.

Quando moleque e saía cedo da escola (cedo msm, sempre fui medroso demais para matar aula) ou antes de ir à Igreja ia no shopping do bairro vizinho que, por daqueles acasos da vida, hoje fica a menos de 5 minutos de casa, só para ficar como cachorro ao forno de frango, vendo camisas e bonés de basquete e Hoquei. Eram caras, inacessíveis a quem tinha uma família que vivia no rotatório da C&A. E por isso mesmo, sonhadas, idealizadas.

Parece bobagem e superficialidade eu hoje gostar de andar de camisas e boné de basquete originais. Não é ostentação, tem muito mais a ver com "traumas", uma forma inconsciente de dizer "Vim, vi, (ralei pra caralho) consegui". Fora que quem mora no Rio e é calorento como eu abomina quaisquer tipo de calça. Já corri provas onde qq um, compreensivelmente, usaria calça, e eu lá, de pernocas de fora.

Pois bem, o tiro virou pela culatra e por causa  Hoje, em qse 32 anos de vida, fui constrangido. Um tenis, uma bermuda largada, aquilo que achava suprassumo da estética foi tornado arma para preconceitos para entrar no Banco Itaú.

Tirar o boné, e os óculos escuros  assim que entrei na fila da porta giratória não foi o suficiente. Um bermudão e uma camisa de basquete (de manga - sim existem) foram suficiente pro o vigilante achar que era um ladrão em potencial. Avisei de antemão que estava com um Ipad e que a porta ia travar.

Ignorou-me e a porta travou.

Tirei o Ipad e os carregadores  e aquela moedinha de um real que sempre fica na carteira.

A porta travou. Olhando desconfiado e vendo claramente que as filas se avolumavam, não se fez de rogado fez-me tirar todas as coisas da minha bolsa, sem necessidade, esvaziar a bolsa.Uma hora a bolsinha, aquelas da Golden Four, caiu com meu livro dentro, a única coisa que não tinha tirado. O Vigilante logo concluiu com perfeição


- Viu? tem alguma coisa de metal para a bolsa cair tão pesada.

- É um livro, senhor. Sou professor, estou voltando do trabalho. Será que se viesse de terno e gravata o senhor agiria da mesma forma?

Expus-me,vi minhas coisas no chão, mesmo que não tivesse nada demais, é algo íntimo demais. Estava a beira da rua de um dos bairros que, em época de Natal (O Meier), vive a ter trombadinhas. Senti-me vulnerável. Ainda mais que nesses quinze minutos, criou-se uma fila de pessoas passivas, omissas, que, pensando só em si, ao invés do nitido constrangimento que sofria, me xingavam, me zombavam,me julgavam.

- Você não também não está arrumado para entrar num banco, dizia uma senhora de camisa regata, shortinho jeans e sandália rasteirinha.


E mesmo exposto tudo que tinha, chamando a gerente, ainda fui impedido de entrar.Mesmo afirmando que já tinha ido, naquela hora, ao Banco do Brasil, Santander e Bradesco sem nenhum problema. A coação e os xingamentos da fila me fizeram desistir de insistir de fazer um mísero depósito e quase pedir desculpas por existir. Se for fraqueza dizer que chorei ao sair sob aplausos de uma fila de anônimos omissos  e cara de deboche rindo do vigilante, sou um fraco.

Mas não tanto a ponto de não  ir na delegacia, esperar 3 hora e um inspetor sem paciência e prestar queixa, fazer o boletim e ir buscar reparação. Não, não, seu inspetor, não quero "fuder" o Itaú e ganhar dinheiro por danos morais. É por princípio: agressões em todos os níveis  acontecem a torto e a direito, mas sempre pensamos "Isso não vai dar em nada mesmo". Acabamos por legitimar tais ações, pela impunidade deles proporios acharem que eu iria saí dali e iria pra casa. Insisto que nosso maior problema é a  nossa mentalidade de colonizado que ainda não virou, e que tem como uma das consequencias a passividade. Desistir de levar adiante é contradizer-me.

(Mais assustador é nessas 3 horas ver três homens entrando falando "acabaram de levar meu carro, alguem me ajuda, eles estao presos no engarrafamento e ngm se dar a dignidade de levantar para pelo menos acalmá-lo, embora adorem exibir seus crachás de Policia Civil )

Hoje eu fiquei nu, fui exposto; E respondi sendo o mais cordial e gentil possível com a pessoas ao longo do dia. E nunca esquecer desse ato quando for falar com uma mãe de aluno, ou com eles próprios.

Afinal, Dois erros não dão um acerto.