sexta-feira, outubro 20, 2006

Faltando um pedaço...


Para quem não me conhece, que fique sabendo da minha característica mais evidente: falo pra caramba. Minto. Não é pra caramba, é pra carambaaaaaaaaaa. Sou daqueles que viram a noite no msn com amigo, que discute sobre futebol com o porteiro, sobre política com o jornaleiro, culinária com o vizinho no elevador, que tem que ser lembrado pelos alunos que vc já ultrapassou 20 minutos da aula, e em vez de responder “Ok, gente , vamos embora!”, diz “Gente me dá mais 10 minutos”...

Então, seja normal que eu mesmo, mais do que qualquer um, estranhe essa sombria quietude, essa minha falta de vontade de falar, essa melancolia no meu olhar.

Nessas horas peço perdão aos meus amigos, mas me torno um chato. Nada está suficientemente bom, há um vazio que, aos berros, diz que tá faltando alguma coisa, algum pedaço. Tédio: pior do que a vontade fazer alguma coisa é a vontade de não fazer aquilo que vc precisa fazer. Em questão de segundos, parece que seus 21 Gb de música não tem nada que interesse. Acho que a jam session do silêncio da madrugada com o som de teclar farão a trilha. Hiato no word: as incontáveis idéias na cabeça confabularam e resolveram de lá não sair.

Olho para o lado e vejo um sofá vazio, uma sala escura e em silêncio. Os poucos amigos estão em duas categorias: ou estão dentro da caixinha do msn, acreditando que está tudo bem comigo (talvez uma vergonha de parecer um Jeremias e usar o msn como um muro de lamentações), ou estão longe, fisica ou emocionalmente, tão preocupados com seus problemas que esquecem que um “oi, to cheio de coisa para fazer e pra pensar, mas não esqueci de vc, tá?” num scrap, telefone, carta, telegrama, código morse, pode me fazer ganhar o dia... Esquece isso, Nelton! Vc tb age assim de vez em quando...Enfim, olho para meus irmãos de fé e percebo que eles me vêem como o mais herege de todos. O erro não é pensar diferente deles, ter uma outra idéia sobre nossa relação com Deus, tentar não emocionalizar a fé ou mesmo ter um gosto diverso da cultura cristã: o erro é você expor isso. Não com o proselitismo que é peculiar deles, mas com intenção de aceitar a opinião contrária. Mas, mesmo assim, acho melhor estar recluso aqui a ser apedrejado.

Resolvo ir a janela, vejo corpos em direções diversas:dentro de carros, em ônibus, a pé, sozinhos, abraçados, alguns estão se beijando em alguma esquina.Tento advinhar o q uma pessoa dentro desse avião, que passa em cima de mim agora, está pensando. Cada um com seus objetivos, seus medos, seus pensamentos... Subitamente me sinto sozinho. Desprotegido seria a palavra ideal. Todos na casa dos 20, com algum juízo, já se perguntou o que fez até agora, o que contribuiu, que marca deixou nesse mundo tão efêmero.E a resposta não é a das melhores. Mas,e minha fé nunca foi abalada, e clamo para que alguma coisa aconteça, que esse silêncio enlouquecedor se dissipe. Que a carência que sinto do toque do outro seja suprida de alguma outra forma.Meu desejo é desejo do Outro. Sinto falta da pele de seda, da minha mão no cabelo dela, descendo pela nuca, de seu cheiro,da sua voz doce e apaixonante no ouvido, do seu sorriso contagiante,e do seu beijo, daqueles que ainda está para se criar o adjetivo ideal para qualificá-lo...Não, ninguém em especial, pelo contrário, luto em vão para não me apaixonar pela imagem abstrata que criei de mulher ideal. O apaixonar é combustível para mim, e na falta do grande amor, que só encontrei uma vez (e perdi), me reapaixono por esse holograma. Assim, me apaixono por todas as mulheres, todas me fascinam, cada uma de uma forma. É a busca pela musa, tão citada por mim, aquela que me distrairá dos meus dilemas. E essa busca termina, provisoriamente, quando vejo apenas meus 2 pés na areia. Ali, parado,forçando para enxergar outro par ao meu lado, entendo o que é estar desprotegido, vulnerável. Não fomos feitos para sermos lobos, solitários, nômades. Não mesmo...

...

Hesito em continuar.Não quero que as pessoas me entendam pela forma mais fácil:sentindo pena. Isso aqui não é um atestado de infelicidade, apenas uma descrição breve para alguém, que só conheço o seu vulto, em algum tempo imprevisível, perceba o quão necessária é para mim. Isso mesmo, da forma mais sombria e negativa, isso é uma declaração de amor. Talvez seja para essa minha abstração, esse alguém que um dia hei de conhecer. Ou não. Muitas pessoas lerão essas palavras, talvez alguns amores, talvez elas achem, com razão, que isso seja para ela. Mas, quando for a pessoa certa e a hora certa, faço questão de mostrar. Se bem que nessa sociedade, de sobrenome efêmero, tenho minhas dúvidas...

E amanhã será um outro dia. Encontrarei pessoas, amigos, amores,e parecerei menos desprotegido. Irei conversar, rir, amar, beijar, andar na praia, tomar chuva deliberadamente, debater, falar (e muito...). Mas, mesmo assim,quando cair a noite, vou sentir a falta desse pedaço que não encontrei,sentirei a agonia da incompletude. Mas isso tem fim: do outro lado do labirinto tem alguém procurando por alguém que pode ser eu. Eu sei disso. Não sei se dá para sair do labirinto e encontrá-la ao mesmo tempo?

Enquanto isso, vou sorrindo, ou seja, como diz o poeta, mentindo a minha dor,para que ao notar que quando estou sorrindo, todo mundo irá supor que sou feliz.

Musica do Post – Sorri (Smile), Charles Chaplin (cantada em português pelo Djavan)