segunda-feira, dezembro 17, 2007

1 ano depois...


Esse post está um pouco atrasadinho.

Afinal, ontem as 16:10 fez exatamente um ano que vi meu nome encabeçando a lista dos aprovados para cursar o mestrado em História Política na UERJ. Depois do espanto natural de ver meu nome lá em cima, logo pensei:” isso tem que virar post do meu blog, eu preciso contar a todos essa vitória!”.


E demorei 1 ano para tocar no assunto simplesmente pq não vi necessidade de espalhar aos quatro ventos. Pra quem me conhece um pouquinho sabe que até fico envergonhado em falar com boca cheia que “Fui o primeiro no concurso do mestrado na UERJ”, sobretudo pq isso soa pra mim a arrogância, que é o mais odioso de todos os defeitos que o homem pode ter.

Um ano após essa “conquista”, posso falar com conhecimento de causa: sabe o que mudou na minha vida por ter conseguido tal fato? Porra nenhuma (advérbio de intensidade significando “nada”). Não me sinto maior e nem melhor que ninguém, pelo contrário. Posso até dizer: “Sobre anticomunismo na imprensa entre 1935 e 1937, dificilmente alguém saberá mais do que eu”, mas tal não me autoriza a andar pelos outros e dizer (ou pensar): “Eu sou o intelectual-sábio-ancião-mestre Miyagi e vcs são um bando de ignorantes, quem ousa discordar de mim?”. E,acredite,não é exagero meu: muitos pensam assim.

Lá na UERJ eu já encontrei um monte assim. Mas também encontrei na UFF, UFRJ, Unirio, USP e em qualquer lugar. E não precisa estar no mestrado não. Seja percebendo que se destaca entre os seus colegas de turma, ou tendo algum defeito na transição do mundo do ensino médio para a da graduação, cada vez mais jovens estão se tornando “arrogantes intelectuais”. Confesso que já quis ser um, mas também confesso que o queria como instrumento de poder, como forma de ter voz reconhecidamente respeitada no grupo social que vivo.

Tem a postura de superior, de achar que o mundo deve gravitar em torno dele. Entende-se por mundo desde o universo inteiro até o seu mundo particular: família e amigos. Acha que com seu desenvolvimento intelectual é equivalente a seu crescimento como pessoa. Pobre coitado.

Um pseudo-intelectual também se fecha no seu mundinho e não permite novas aventuras e experimentações. Não se permitem ousar, brincar, enfim, viver. Pior. Tudo aquilo que ele não se permite, ele põe a etiqueta de “errado”, “medíocre” ou de “ridículo”. Enumero as criticas mais freqüentes:

“Como você pode ver novela da Globo?” “Funk? Isso não é música, é coisa de ignorante” “Estou lendo Tolstoi, como vc pode ler Harry Potter?” “Que Perfil é aquele no Orkut?”

E aí vem a última característica que mais me irrita: não saber discutir. Discussão, para mim, sempre foi um diálogo entre vozes diferentes, buscando o levantamento de opiniões, e que, num segundo momento optativo, pode gerar uma terceira opinião adotada por um, pelo outro, ou pelos dois. Mas não, discutir com pseudo-intelectual requer dizer: guerra por ter razão. Ele já vem todo armado, com frases de efeito prontos e táticas de persuasão aprendidas em internet. Aí qualquer coisa que vc possa discordar, qualquer debate se torna um inferno. Quem disse que eu quero ter razão? Quem disse que eu não posso mudar de opinião? Quem disse que eu sei tudo sobre tudo? Mas não, eu sou o primeiro lugar no mestrado na UERJ, eu sou o cara, eu tenho que ter uma opinião formada sobre tudo e tenho que impô-las a todos aqueles que estão abaixo de mim. Acredite, já me disseram isso. Mais: aqueles que não disseram, pensam assim. Nessas horas , eu tenho que gritar aquele palavrão libertador, que te desestressa e coloca vc no eixo:

FODA-SE!

Por essas e por outras que eu não tive vontade de escrever sobre a minha vitória. Para que não soasse assim. Melhor que expô-las, é ter em sua memória cada segundo da batalha, de passar um ano inteiro sem dinheiro algum, trancado no quarto se matando para passar, mesmo sabendo que no ano anterior a mesma banca que me passou em primeiro, chamou a mim de “fraude”. É saborear cada instante e desfrutá-lo numa posição neutra, equilibrada, sensata: não em cima de um pedestal de uma intelectualidade falsa e que só vai te atrapalhar. Em resumo: no final, todos vamos morrer, seja menos intelectual, e mais humano.

Texto completo em www.nelton.blogspot.com

P.S.: A foto foi da época quando entrei. Hoje em dia, o tema da minha dissertação é, provisoriamente, “A fabricação do Perigo Vermelho – O discurso anticomunista em “O Jornal”” (1935-1937).