segunda-feira, julho 11, 2005

Musas


"Porque a vida de nada vale sem a Musa." (Rodrigo Farias)
Elas são espécies raras: aparecem tão espontaneamente que não conseguimos nos desvencilhar de seus encantos. Rápidas como as águias invadem nossas mentes, corpos, almas e tomam conta dos nossos pensamentos, dos mais científicos aos meros devaneios.Estão para descobrir alguém, algum entorpecente, alguma coisa que tenha tanto impacto, penetre tão profundamente em nós, do que as musas.

Não obstante, sua presença não é, de forma alguma, perniciosa: possuidoras do dom do estro, nos inspiram a ponto de nós mesmos ficarmos surpresos com nossos feitos: de Leonardo Da Vinci, com sua Monalisa , até este mero escritor, com seus textos. Acordar e se lembrar, ou ser lembrado pela contração do coração, de sua musa, torna nossos dias mais colorido. Os dias ruins, que existem para todos, não conseguem levar-nos a completa tristeza, uma vez que ao pensar em nossas musas, o sorriso redentor aparece no canto da boca.

Todos tiveram, têm, ou terão suas musas. Essas nove deusas que presidiam às ciências e às artes na mitologia tem várias facetas: ao contrário do consenso geral, musas não são necessariamente seres do sexo oposto (ou do mesmo), ou seja, as responsáveis pelos platonismos nossos de cada dia. Elas podem ser a nossa carreira, a nossa casa, nossos livros, nossos amigos, ou mesmo nós mesmos. Mas quando tratamos exclusivamente da Suposta divindade ou gênio que inspira a poesia, temos que evitar o mesmo erro que cometeu Ícaro .


Musas são sonhos, bons sonhos, seres poetizados por nós mesmos, por isso a falta de imunidade a elas, só que podem se espalhar como poeira quando queremos toca-las. Sempre estamos em busca da Musa ideal. Só não podemos, como Ícaro, perder nossas asas quando tentamos alcançar o inalcançável . E aí está um problema, pois sonhos também são motivadores de nossas vidas, variando de proporção, todos corremos atrás de nossos sonhos, mas como saber se um sonho é alcançável ou não? Não há receita para isso, e isso é tão atormentador quanto fascinante: nenhuma musa é igual a outra, são complexas, encontram-se no limite do real e do imaginário, podem ser tocadas como podem se dissipar em nossas mãos. E se não temos esta noção corremos o risco de esquecermos que a realidade, por mais nublada que seja, é,mesmo assim, mais acessível.Um encontro pessoal com sua musa pode ser um sonho, o tempo pode parar, as pessoas em volta podem se tornar, num estalo,tão desinteressantes quanto desnecessárias. Uma música inebriante pode invadir o seu ser, e você pode sentir dentro de si uma atmosfera de alegria que a última coisa que quer é sair dali. Mas quando se vê tentado a encostar na sua suave e tenra pele, quando você se vê tentado a nunca mais deixa-la escapar da sua vista, cuidado...

... você pode cair em si, percebendo que está a contemplar as estrelas, numa estrada noturna, de volta para casa.


De mãos vazias.




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Musica das Férias: Luiza – Tom Jobim



domingo, julho 10, 2005

Momentos poéticos II



Dando continuidade a série, um poema que conheci em Patch Adams e é o meu predileto:




Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
(Pablo Nerruda)
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Musica do Dia: Forever By Your side- The Manhatans