terça-feira, fevereiro 13, 2007

Se é bom ouvir, imagina tocar...



No início de minha adolescência eu descobri uma brincadeira, no mínimo, diferente: eu me trancava no quarto, desligava as luzes, colocava uma boa música, pegava um violão -que não sabia tocar- e simplesmente fingia ser o guitarrista. Falando assim, de forma impessoal e distanciada, parece meio insano (meio?), mas me lembro como se fosse hoje do que sentia: minha pele toda ficava arrepiada, eu tinha calafrios e tinha uma sensação muito aliviante. Eram os primórdios da minha relação com essa dona tão fascinante: a música. O que era uma mera brincadeira, virou terapia: com toda tensão que um rapaz um tanto diferente de 16,17 anos, acrescida do fato nunca antes pensado que seus pais estavam se separando, eu precisava ter alguma válvula de escape para não surtar. E aí, ficava no quarto alguns minutos, antes que a irmã entrasse e confirmasse que eu era doido, e voltava anestesiado.

É bem intensa minha relação com a música: chego ao extremo de dizer que posso ficar sem livros, sem computador, sem televisão, mas sem música eu não vivo. O efeito terapeutico dela é melhor que muito antidepressivo. A cada melodia, uma estrada rumo a um lugar novo. A cada acorde, um sentimento aflorado, uma retrospetiva. É aquela musica do primeiro beijo, daquela viagem inesquecível, daquele amor platônico que nunca soube o que você sentia por ela...enfim, quando você se dá conta, você tem uma trilha sonora sem perceber. Meu mundo é o da música: meu melhor amigo é o mp3 player e o meu violão. Sim, ele mesmo. Depois de alguns anos, aprendi contrabaixo, e violão. Não vejo a hora passar, noites de sono já foram perdidas...

Mas não é só o som do violão que me inebria. Na verdade, todos os intrumentos são fascinante para mim (eu ainda vou aprender teclado e trompete), mas eu tenho meu xodó: o contrabaixo. É instrumento que é alma da banda, mas ninguém sabe o que ele é:alguns dizem que ele é uma guitarra com menos corda, alguns nunca perceberam o som gravinho, gravinho dele. Foi o primeiro instrumento que estudei (o violão eu aprendi sozinho depois), e a paixão é cada dia maior: tão bom quanto um bom solo é o aquele peso de um bom baixo tocado sendo captado pela sua alma. Sim, a música tem que ser ouvida pela alma, mais do que pelo ouvido.

Hoje, 10 anos depois da criação da minha estranha brincadeira, mais maduro e sabendo o que fazer com o instrumento que to segurando, me vejo fazendo a mesma coisa: desligando as luzes e tocando junto com o rádio. E saio igualmente relaxado, pronto para esse mundo musical que me cerca. Sou um autista por opção: em geral estou na rua, com o mp3 nas alturas, fingindo estar tocando uma guitarra, o baixo, a bateria...E as sensações que tenho são as mesmas de outrora. Eu já disse a terapeuta q não preciso de remédio, eu preciso de música.

E não é que ela concordou?

Um comentário:

Anônimo disse...

Nelton:
Gostaria que soubesse que admiro muito a sua dedicação para com os alunos do Pré - Jovem Nota 10.
Agradeço o que tem feito por nós.