quarta-feira, dezembro 20, 2006

Toque

[Toque]

Nunca é muito tempo e é uma palavra muito forte. Mas, embora eu seja irremediavelmente apaixonado, certamente um relacionamento virtual não duraria muito tempo comigo. Não, é menos pela distância em si, posto que os corpos podem estar a quilômetros de distancia, mas as almas, os corações, podem estar a milímetros. (ok, há controvérsias, mas isso é outra conversa, mesmo pq não escrevo para convencer... Ta, há controvérsias, mas posso continuar a escrever, posso?). Também é menos pela inevitável máscara que usamos no mundo virtual, mesmo que involuntariamente. É, sobretudo, pela falta do toque. Não, não to falando do toque subjetivo, o na alma, que é lindo, sublime, extraordinário, etc e tal. To falando do físico mesmo, o pele na pele, o cafuné, o carnal...

O toque é uma arte, e antes que vc diga que acabei de falar um chavão horroroso, eu peço as próximas linhas para explicar. O toque a qual me refiro não é apenas o pegar na mão, no cabelo, na bochecha. Isso qualquer um faz: seu pai, sua tia, seus avós (os seus avós nunca fizeram isso? Penas, os meus sim...). O toque é a arte de passar uma mensagem com um movimento. Sutil, leve, sem necessidade de explicação. É aquela mão na sua que sussurrou na sua alma vem comigo, juntos somos imbatíveis e fez com que vc se tornasse capaz e segura para fazer qualquer coisa. Aquela cabeça no seu colo, naquele final de tarde chuvoso, vendo qualquer coisa na tv. Afinal, ninguém ta vendo nada mesmo. É aquele emaranhar nos seus cabelos pela sua amiga, que vale mais de cem “to aqui, conte comigo para tudo...”. O beijo não deixa de ser um toque. Mais. O primeiro na hierarquia. Há dois tipos de pessoas: aquelas que não vivem sem um beijo, e aquelas que mentem. Naqueles micros segundos (ou não...) é o sopro de vida que te invade sem pedir , um lembrete em néon de que vc está viva. Já o abraço é o meu predileto pq há entrega, renuncia do outro. Naquele instante, você é do outro, e o outro é seu.

Um relacionamento, seja qual for, tem que ter este elementos. Não esses expressos necessariamente, nem numa ordem. Mas vc já viu dois amigos que nunca se abraçaram, que não se tocam, como se existisse uma parede dividindo-os? Nem eu. Um casal de namorados, que mesmo que não sejam dois chicletes, não trocam carícias? Uma relação entre pais e filhos onde um evita o outro? Este eu tb já vi: para um lado, o medo do mico, para o outro lado, o medo de não constranger, e assim, pais e filhos se tornam, cada vez mais, dois estranhos que dividem um mesmo teto.

Poderia fazer um tratado do toque aqui, mas longe desta vã pretensão, só desejo lembrar que um mísero contato, um mísero cafuné, pode trazer a tona um turbilhão de emoções, sensações, podem nos levar a lugares longínquos, te tirar do chão, te fazer voar, transcender o tempo, o espaço, a distancia. E nos levar a fazer digressões, devaneios, dos mais bobos, dos mais infantis...


...Como este.

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