sexta-feira, novembro 12, 2004

O que o você quer ser quando crescer?

Pergunta trivial esta, não? Todo ser humano, racional, quando criança já escutou esta pergunta do avô, da Tia da Escola, ou mesmo do pai, quando este não faz a afirmação: "Você vai ser isto!". Passamos todo a nossa a adolescência maquinando o que nós queríamos ser quando crescer, às vezes até esquecendo de agir como criança ou como adolescente, com a agenda cheia de cursos de inglês, de artes, de informática...

Introdução trivial, para um assunto capital.

Há algum tempo atrás, quando eu não tive tempo de escrever, li em um artigo escrito que, segundo o MEC, mais de 50% dos alunos das Universidades fazem aquilo que "Acham" que vão conseguir uma melhor colocação profissional, em vez de fazer aquilo que eles fazem por gosto, por convicção. No "Globo repórter" de algum mês atrás (sou um Historiador que é péssimo com datas, graças a Deus) a proporção é de um para 3 universitários. No Brasil república (aquele de Cabocla), a oposição era fraca, pois, ela não tinha motivação ideológica, e sim de interesses, trocando em miúdos, era só esta entrar no poder, que ela fazia as mesmas coisas da sua "opositora".

A analogia aqui é só a questão da motivação: as pessoas não acreditam mais nos seus potenciais, acreditam apenas na força do mercado, ou seja, faz uma faculdade daquilo que "dá dinheiro" e pronto, será feliz e empregada para todo sempre.

Será?

Tudo bem, eu reconheço que nada está fácil nestes dias: a cada dia vemos, num contexto não só nacional, mas também global, que há uma subtração no mercado de trabalho. São raríssimos os países em que a taxa de desemprego é pequena, penso que até em Marte há fila de emprego. E tão importante quanto, é o discurso que escutamos na nossa infância, ou adolescência, pelos pais, ou tios, ou mesmo por qualquer um que a gente considerasse importante, e que,mesmo sublinarmente marcou nosso pensamento: "Olha, estude, porque lá fora não está fácil para ninguém" "Professor? Ah garoto vai estudar para ser médico, que isto é que dá dinheiro!" "Nelton, vai emagrecer, e faz a prova para ser militar, seja igual ao seu tio: olha ele passou e agora tá bem de vida" "Gari? Ah faz me rir?”.

Eu nunca quis ser gari ou mesmo trocador (e os acho fundamental para nossa vida, ou vc já pensou o que seria de nós sem um gari?), mas quando disse, no segundo ano do ensino médio, que ia ser Professor, meus pais caíram para trás. Até hoje, não há muito interesse do meu pai em saber o que estou aprendendo, na verdade ele queria que eu fosse militar.E eu poderia ser, se eu quisesse, e sem pretensão, se eu parasse e estudasse. Mas não há na minha cachola uma motivação de fazer aquilo que eu não ame.

Algumas pessoas em fase de escolha da sua profissão me perguntaram sobre o que fazer, a resposta, em uma palavra: TESÃO.

Tesão naquilo que faz, este é o segredo. Faça aquilo que você tem paixão, amor, que você possa virar para qualquer um e dizer sem medo, ou receio do que eles possam dizer: "EU SOU ISTO!". Faço História a 3 anos, estou quase me formando, e tirando a minha 1° paixão, meu amor,minha noiva, todos disseram , sem exceção:(Leia em tom de descaso e deboche) "História? Poxa, vc tinha tanto potencial naquilo, foi fazer logo História?". Nunca liguei,não me abalo, a História corre no meu sangue, a busca pela imparcialidade e pela verdade me faz ser uma pessoa esquisita: sou um desconstrutor de mim mesmo, eu sou aquela "Metamorfose Ambulante" , minhas opiniões são fortes e convincentes,não obstante se eu escutar uma outra opinião , que eu julgue melhor argumentada, eu mudo (e o orgulho para o beleléu, a mesma opinião na hora) e digo: "é você está certa...". Mas vamos voltar ao tópico, a minha Desconstrução, é um longo e outro papo.

Estou na pior fase de um Universitário: a busca do primeiro emprego naquela área que escolheu. Mais precisamente estou a 3 anos procurando alguma coisa na área, e ainda não achei. É um ótimo pretexto para eu largar tudo e fazer algo que dê dinheiro, não? Não, eu tenho consciência de que é uma fase, e sei que depois do primeiro emprego, eu tenho capacidade para ascender, para me sustentar com a História. Vocês podem estar se perguntando: "Nossa, que auto confiança é esta, que chega parecer prepotência?" Eu Respondo: a minha ideologia de vida, a minha motivação , o tesão pela sala de aula, pelas pessoas, que pai, ou pessoa nenhuma vai me tirar,pois é mais do que um profissão, é uma missão divina. Eu sei que este discurso religioso não cai bem para um Historiador, mas não há como negar a mão de Deus no que faço. E aí, outra coisa que devemos nos lembrar: sua profissão é mais do que um mero trabalho de 40 horas semanais, é algo talvez religioso, é uma missão que transcende qualquer escritório, qualquer sala de aula, qualquer campo de futebol, qualquer palco, e qualquer outra coisa que você queira falar agora. Logo, a minha autoconfiança é fruto da certeza de que eu faço o que amo.

Um fator importante a ser lembrado, e que o Globo e as outras emissoras não dizem é que todos os grandes profissionais fazem aquilo que amam. Senna, desde criança quis ser piloto; Pelé sempre quis ser jogador, os grandes advogados, advogam por paixão, e por isto conseguem até absolver criminosos, não pela sua inocência, mas pela arte da persuasão. Empresários reconhecidos começaram de baixo, às vezes de Office boy, e pelo amor e principalmente pela motivação ideológica que hoje nós não temos –pois somos produtos feitos e em nós não há poder de reagir ao sistema (Escute "Admirável chip novo" da pity para ter uma noção do que estou falando)- são o que são hoje.

Posso te dar um conselho? Aquele que faz o que gosta, o que dá o "tesão" é bom naquilo que faz, porque não faz por obrigação. E o mercado não está fechado, apenas seletivo: ele só quer os melhores.

A sorte está lançada,a dica foi dada, e depende agora só de você escolher qual caminho a ser tomado.

É, nem eu, nem você esperávamos que a perguntasse fosse tão complexa.

E agora,você tem certeza do "O que você quer ser quando crescer?”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sou eu, Ana.

Verdadeiramente, é um questionamento profundo e relevante. Seu posicionamento, consistente e perfeitamente fundamentado. Esta dura realidade assombra os pensamentos de 99% da população. Uns porque têm que tomar a dita decisão; outros porque passam os dias a se perguntar se tomaram a decisão correta...

Apenas deixo, como é de meu feitio, uma outra problemática subsequente à sua:

QUANDO É QUE SE CRESCE?

Você é brilhante!
Um beijo...

Anônimo disse...

Acabei de entrar para o Orkut e caí de pára-quedas (que delícia!) na comunidade de PROFESSORES, a minha preferida até agora! Foi pegando um atalho lá que eu vim parar aqui neste seu cantinho e... adorei!
Nunca sofri nenhuma pressão (ainda bem!) por parte de ninguém... aqui em casa todos me apoiaram e nunca impuseram nada (nem eu aceitaria, com o gênio e a determinação que tenho!). Nunca acharam loucura eu ser professora, pois perceberam, acho, que fui movida pela paixão, pelo tesão, por acreditar que eu poderia mudar o mundo, achar a torná-lo mais justo! Consegui? Parcialmente... é bem mais complicado do que eu imaginava, mas não desisto. Se não puder mudar o mundo, pelo menos já me sinto uma vencedora não permitindo que ele me mude, que me corrompa, que dissipe meus sonhos!
Não seríamos felizes sendo outra coisa... nem aqui nem em lugar nenhum, nem em Marte! (risos)
Um abração. Muito prazer!
Sua mais nova amiga: Andreia Dequinh@, dona do blog http://www.revelacoes.blog-se.com.br

P.S.: Sou péssima em datas tb! Relaxe...